Artigo Ney Lopes: “Mãos à obra! UNESCO abre portas para o RN”
Ney Lopes – jornalista, ex-deputado federal, professor de direito constitucional da UFRN e advogado
O RN, que é “campeão” em oportunidades perdidas, deve abrir os olhos e aproveitar a excelente chance dada pela UNESCO, quando na semana passada declarou o geoparque do Seridó, RN, patrimônio geológico de relevância internacional. Na região há 120 mil habitantes e comunidades quilombolas. Localiza-se numa das maiores reservas do mineral scheelita da América do Sul e tem testemunhos da evolução de 600 milhões de anos da terra, além de materiais geológicos, que datam até 2 bilhões de anos.
O país tinha, até o momento, o geoparque Araripe, como o único brasileiro reconhecido pela Unesco, que fica na bacia do Araripe, entre os estados de Ceará, Pernambuco e Piauí. O nosso geoparque do Seridó compreende seis municípios: Acari, Carnaúba dos Dantas, Cerro Corá, Currais Novos, Lagoa Nova e Parelhas, totalizando mais de 2,8 mil km² na Caatinga, bioma único do mundo.
Os primeiros geoparques foram criados na Europa, no ano de 2000. Na Ásia, em especial na China, os geoparques se encontram em acelerada disseminação. A UNESCO equipara-os aos programas de Reserva da Biosfera e Patrimônio da Humanidade.
Atualmente, existem 169 Geoparques Globais da UNESCO, em 44 países. Ao conscientizar a população sobre a importância do patrimônio geológico, os Geoparques Globais da UNESCO dão às populações nativas sentimento de orgulho em sua região. A criação de empreendimentos inovadores e cursos de capacitação de alta qualidade é estimulada por meio de novas fontes de receita geradas pelo geoturismo, o que permite reconectar com a história de 4.600 milhões de anos do Planeta e as formas de vida social adotadasa até hoje.
Quais os benefícios decorrentes da conquista do geoparque do Seridó?
A primeira regra é agir rápido. Isso significa a mobilização do governo do RN, da classe política (senadores, deputados, prefeitos, vereadores), os órgãos empresariais e de trabalhadores, Igreja, organismos culturais, na imediata montagem de estratégias objetivas de ação, que gerem empregos e oportunidades. Vejamos algumas sugestões.
Ao invés de consultorias pagas a peso de ouro, as Universidades potiguares (federais, estaduais e privadas) poderão somar forças, através dos seus docentes e discentes, visando formação de “grupo de trabalho” multidisciplinar, que trace o projeto a ser seguido.
São benefícios inerentes aos Geoparques, a preservação do patrimônio geológico; ações e políticas de proteção da natureza, com apoio institucional; políticas de manutenção e restauração com aporte de recursos internacionais, inclusive ONU; incentivo a novas pesquisas cientificas, mobilizando setores público e privado; incremento da cadeia produtiva do turismo (hotéis, bares, agências de viagem, empresas de transporte, guias, etc); melhoria na infraestrutura local (sistema habitacional, viário e de serviços); projeção e status internacional da localidade; prioridade dada às belezas naturais da região, com a produção dos artistas e artesãos nativos; oportunidades de trabalho e renda com o aproveitamento de ações educativas vinculadas ao geoparque; incentivos fiscais e de crédito para os empreendedores, sobretudo os pequenos e médios.
Nessa perspectiva, o geoparque do Seridó abre intercâmbios com as principais instituições de ciências do país e internacionais, por meio de plataformas digitais, sistemas de informações e aplicações abertas, como referência para a comunidade geocientífica.
A vitória alcançada no reconhecimento do Geoparque do Seridó pela UNESCO remonta aos primeiros passos dados em abril de 2010 pelo geólogo e docente da UFRN, Prof. Dr. Marcos Nascimento, Rogério Ferreira (geógrafo da CPRM) e Carlos Schobbenhaus (geólogo da CPRM), ao proferirem palestra na UFRN de Currais Novos, expondo o início dos trabalhos, através do inventário do patrimônio geológico da região.
Mãos à obra! O “Geoparque do Seridó” precisa crescer e transformar-se numa referência internacional. A UNESCO já abriu a porta. Falta advogado, que defenda o RN. Não podemos continuar com os gestos característicos do RN nos últimos tempos, representados nos símbolos de acomodação, primarismo, falta de criatividade e devaneio. A hora é de mudar. Só o povo livre poderá fazê-lo.