Greve da saúde em Natal aumenta a espera por ambulâncias do Samu

Dos 10 veículos de suporte básico, 5 estão circulando. Dos 4 de suporte avançado, são apenas 2/ Foto: Alex Régis

A greve dos funcionários da saúde de Natal tem afetado o funcionamento do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). De acordo com a assessoria da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a paralisação trouxe uma redução de 50% no número de ambulâncias circulando. Dos 10 veículos da Unidade de Suporte Básico (USB), cinco estão em circulação. Já para as Unidades de Suporte Avançado (USA), são quatro ambulâncias e duas rodando.

Segundo a SMS, a greve tem causado um atraso. Porém, a pasta atribui a demora também à retenção das macas no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel. “Se as macas ficam retidas, a ambulância tem que ficar parada, porque não vai andar sem maca. A outra causa é a greve dos enfermeiros e técnicos de enfermagem. Porém, mesmo com a frota que está na ativa, se não fossem as macas paradas, o tempo de espera seria menor, porque teria fluxo. Sem rotatividade, complica ainda mais”, disse a assessoria.

No Walfredo Gurgel, o vaivém de ambulâncias se mantém, sendo a maioria de ambulâncias brancas, que vêm do interior. Assim, para a coordenadora de Pronto-Socorro do hospital, a greve não trouxe consequências graves para o hospital. “O hospital não sente tanto o impacto. Pelo contrário. Como tem um número menor de ambulância circulando, teoricamente vai chegar menos ambulância aqui”, diz Melka Torquato. A diretora do Walfredo, Maria de Fátima Pinheiro, concorda: “as ambulâncias brancas batem recorde. Elas chegam muito mais aqui do que as ambulâncias do Samu. Se só o Samu trouxesse para o Walfredo, a gente diminuiria a superlotação do nosso corredor”, afirma.

A diretora lembra que o tempo de saída para as emergências se mantém em um minuto, quando a equipe é chamada e sai da base. Nesses casos, é acionado o código 3 [o mais grave] para ir até a ocorrência. Porém, com metade das ambulâncias circulando, não dá para suprir toda a demanda, o que causa um atraso para as outras ocorrências. “Se tiver o chamado e não tiver ambulância, é lógico que vai demorar mais”, argumenta Melka Torquato. “O que a população faz? Pega e leva por conta própria. Acontece, vem de carro próprio, porque quer salvar o seu parente”, diz a diretora do Walfredo.

Na última sexta-feira (6) a TRIBUNA DO NORTE esteve no Hospital Walfredo Gurgel e acompanhou o entra e sai de ambulâncias. Um dos enfermeiros do Samu Natal falou sob anonimato, e criticou a posição da Prefeitura por não ter “compromisso com os profissionais da saúde”. “Esses profissionais que atendem na UPA, a grande porta de entrada, deveriam ter seus direitos, ter um salário digno. Infelizmente, a população é quem sofre”, afirmou.

O socorrista reafirmou a importância do atendimento rápido, prejudicado com a greve da saúde. “O tempo resposta é importante para o paciente, para uma vítima de AVC [acidente vascular cerebral], PCR [parada cardiorrespiratória]. Você tem que chegar no local para socorrer a vítima e infelizmente a gente tem a questão do trânsito, das macas que ficam presas, mas também da central de regulação. Por isso demora e quem sofre é a população”. Procurado, o Samu Natal minimizou: “o Samu não estava em greve de médicos. Quem parou foram as outras categorias”, disse o coordenador-geral Cláudio Macedo.

No Walfredo Gurgel, a TRIBUNA DO NORTE acompanhou dois casos de pessoas prejudicadas pela demora. Um motociclista sofreu um acidente próximo ao Ginásio Nélio Dias. Segundo o amigo que o acompanhava, a demora entre a ligação e a chegada da ambulância foi de 50 minutos. “Deveria ser mais rápido”, reclamou o acompanhante.

Na Unidade Básica de Saúde (UBS) da Cidade da Esperança a situação foi ainda pior. Alexsandro Martins da Costa chegou lá no carro próprio com a mãe. Diabética, ela passou mal em casa e ficou inconsciente. “Minha esposa ligou para o Samu duas vezes. Perguntaram se ela tinha filho. Aí os que tinham, disseram que dessem um jeito de levar porque não tinha Samu à disposição”, explicou.

De acordo com Costa, nem um prazo de espera sequer foi dado. A solução foi “dar um jeito de trazer ela”, disse. Ele disse que não sabia da greve dos servidores da saúde. Ao ser informado pela reportagem, falou do prejuízo. “Não só a gente, como várias pessoas aí que no momento estavam precisando e por causa de questões de negociações a gente é prejudicado”.

Reivindicação
O Sindicato dos Trabalhadores em Saúde do Rio Grande do Norte (Sindsaúde-RN) afirmou que a entidade não tem uma posição definida no momento. Como as decisões são da categoria, a direção convocará uma assembleia nesta sexta-feira (13).

Porém, sobre os problemas do Samu, o coordenador do Sindsaúde, Flávio Gomes, justificou que não são resultado da paralisação. “Não são problema da greve. São recorrentes na Prefeitura de Natal, mas só aparecem na greve”. O sindicalista criticou o tratamento recebido pela categoria nos dois anos de pandemia e afirmou que a greve é unificada com outros sindicatos. Além do Sindsaúde, participam o Sindicato dos Enfermeiros (Sindern), dos Odontologistas (Soern) e dos Farmacêuticos (Sinfarn). Os médicos compõem outra categoria, que não aderiu. Gomes disse esperar outro posicionamento da Prefeitura. “Uma proposta digna para o servidor, nada de boca. Queremos compromisso por escrito”, disse o diretor.

As exigências dos grevistas são a garantia do pagamento de insalubridade, gratificações e aumento salarial. A proposta da Prefeitura é de reajuste de 8%, enquanto os profissionais exigem uma reposição dos oito anos sem reajuste. A cobrança principal é para a atualização da data-base. Os sindicalistas não falam de uma porcentagem específica, entretanto, se baseiam em um estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) para justificar a perda do poder de compra do salário mínimo nos últimos anos. Com isso, os vencimentos dos servidores estariam defasados.

*Com informações da Tribuna do Norte

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