O Teatro Alberto Maranhão (TAM) segue sem uma data certa para sua reabertura. Recém-inaugurado em dezembro passado pela governadora Fátima Bezerra (PT), após quase sete anos fechado, o equipamento cultural precisou ser interditado temporariamente para intervenções em razão das fortes chuvas que acometeram Natal no começo do mês. Apesar da expectativa da Fundação José Augusto para reabrir o espaço até o fim de abril, há duas situações que demandam tempo: a conclusão de um projeto de drenagem, que envolve acessibilidade, e a autorização por parte do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para novas intervenções.
De acordo com o coordenador de Teatros da FJA, Ronaldo Costa, o projeto de drenagem está sendo feito por um engenheiro civil e basicamente consiste na instalação de comportas removíveis, nos espetáculos, para evitar a entrada da água nas dependências do teatro, além de bombas de drenagem que serão colocadas no átrio do teatro. “Existem bombas no subsolo, mas vamos colocar uma no átrio e outra na parte do semiterrado de bombear a água pra fora”, cita. Antes, porém, há uma necessidade preventiva de se colocar pequenas paredes de alvenaria na entrada do teatro. Em ambos os casos, é necessária a autorização do Iphan e Ministério Público do RN.
“O TAM possuía barreiras nas portas, que eram de alvenaria, e eram incondizentes com a acessibilidade, porque eram rota de fuga. Essas paredes que existiam tinham um motivo, que era pra conter esses alagamentos que acontecem historicamente no TAM. Pra fazer essas intervenções, essas barreiras para evitar a água entrar, precisamos de autorização do Iphan e MPRN. Estamos nessa fase”, cita. Ainda não há orçamento para essa questão.
Emergencialmente foram colocados sacos de areia em determinados espaços para evitar novas inundações, o que impede a reabertura. “Se a gente tira, deixa o TAM vulnerável, porque os índices pluviométricos estão altos”, disse.
O diretor do TAM negou que equipamentos ou instrumentos do teatro tivessem sido danificados com as precipitações que aconteceram em Natal. O gestor Ronaldo Costa cita ainda que aparelhos de ar-condicionado, caixas de som, tapetes e carpetes, sistema elétrico, entre outros itens, passaram por processos de limpeza custeados com a garantia da empresa que reformou o espaço.
“O fator que gerou o alagamento foi externo. O TAM não tem goteiras. Todas as questões afetadas foram recuperadas plenamente, mas precisamos proteger o TAM independente do fator externo. Foram feitas obras e melhorias de drenagem no TAM mas que não são suficientes ainda. Uma chuva de 200 milímetros mostrou que não foi suficiente”, diz.
O diretor do TAM também cobra um projeto amplo de drenagem na Ribeira. “O que causa o alagamento não é o problema do prédio, é o fator de drenagem da Ribeira. Tem que se ter a consciência para se olhar para essa questão. Isso não é da nossa alçada”, diz.
De acordo com a Secretaria de Obras Públicas e Infraestrutura de Natal (Semov), há a previsão de conclusão, em abril, de estudos para um projeto de drenagem no bairro da Ribeira, na zona Leste da capital, para buscar contornar os problemas de alagamentos que afetam o bairro. Uma empresa já está contratada para elaborar o projeto. Só a partir disso é que a pasta irá iniciar a captação de recursos.
Em nota enviada à TRIBUNA DO NORTE, o Iphan disse que “considera que as intervenções são necessárias e não há óbice para que sejam executadas em caráter temporário”.
“A obra envolve a construção de eclusas de alvenaria nas portas laterais e posterior do Teatro, como forma de conter a água das chuvas. Tais intervenções também requerem autorização do MPRN, considerando que irão dificultar a livre circulação de pessoas no local onde serão realizadas, e por não haver rotas de fuga preconizadas pelo Corpo de Bombeiros. O Iphan também destaca a importância de uma solução definitiva para os alagamentos no Teatro, considerando o efeito temporário da obra emergencial. Desse modo, após as intervenções iniciais, a direção do Teatro deverá apresentar projeto definitivo para contenção do problema”, diz comunicado enviado à TRIBUNA DO NORTE.
Eventos
Três meses após ser reinaugurado, o TAM foi fechado de forma temporária no dia 10 de março de 2022, com adiamento de todos os eventos previstos para este mês. Em nota, a FJA disse que os eventos serão remarcados em entendimento feito entre a direção do TAM e as produções.
Entre os eventos, estavam previstos ‘João e Maria na Floresta Encantada’ e “Alice no País das Maravilhas” (Projeto Escola); o Festival Violas Potiguares; o espetáculo ‘Fernando Anitelli apresenta o Teatro Mágico Voz e Violão-Luzente’; o show musical ‘Sacrário’, da cantora Valéria Oliveira; a solenidade comemorativa do Instituto Histórico e Geográfico do RN; e o Concerto Oficial da Orquestra Sinfônica do RN”.
Teatro passou seis anos fechado para reformas
O Teatro Alberto Maranhão foi reinaugurado em dezembro do ano passado, após quase sete anos sem funcionamento. O equipamento cultural estava fechado desde julho de 2015, após laudo do Corpo de Bombeiros apontar problemas na estrutura física, deficiência nas instalações elétrica e hidráulica, ausência de projeto para combate a incêndios, falta de acessibilidade e problemas de drenagem.
De acordo com o Governo do Estado, foram investidos na reforma do Teatro R$ 12,9 milhões no total, sendo R$ 10,4 milhões em obras e equipamentos e R$ 2,5 milhões da implementação da caixa cênica. Inicialmente, a projeção do Estado era de concluir as obras em 2019, mas questões orçamentárias e adequações no projeto atrasaram o cronograma da obra.
O Teatro Alberto Maranhão foi interditado no dia 14 de julho de 2015, após determinação judicial da 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do RN. Conforme decisão unânime dos desembargadores na época, o equipamento cultural só poderia ser reaberto após adequações estruturais e de segurança de acordo com as normas e recomendações do Corpo de Bombeiros. O processo com o pedido de interdição se arrastava desde 2010 na Justiça, mas como o Estado recorreu da decisão o local continuou funcionando.
Inaugurado em 1904, o Teatro Alberto Maranhão (TAM) é a mais antiga casa de espetáculos do Rio Grande do Norte. Nos últimos anos do século XIX, o bairro da Ribeira começava o seu desenvolvimento, e no início do XX, despontava como o principal centro cultural e comercial da cidade. Surgiu o teatro da Praça Augusto Severo, cujas obras foram iniciadas em 1898 e inaugurado em 1904, em estilo chalé e uma composição clássica. Em 1910, foi reformado pelo arquiteto Herculano Ramos e reinaugurado em 1912, com dois pavimentos, em arquitetura eclética e elementos art nouveau.
O TAM foi originalmente batizado de Teatro Carlos Gomes, homenageando o mais importante compositor de ópera brasileiro, autor de “O Guarani”. Em 1957, seu nome passou a homenagear o ex-governador Alberto Maranhão.
Foi tombado pela Fundação José Augusto (FJA) em junho de 1985 pela sua importância cultural para o RN. Em 2014, o Iphan reconheceu o conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico da Ribeira, com o teatro sendo tombado pelo órgão federal.
Com informações da Tribuna do Norte