Estimular as papilas gustativas da língua para devolver o paladar e reduzir efeitos colaterais nos pacientes em tratamento contra alguns tipos de câncer. É essa a proposta da Jujuba Nutrinim, um projeto desenvolvido por uma equipe de cinco alunos do Serviço Social da Indústria (Sesi) de Natal e São Gonçalo do Amarante, na região metropolitana da capital. O projeto surge com a ideia de amenizar as sequelas físicas e mentais causadas pelo câncer em si e pelas terapias exaustivas de combate à doença, explica Cailany Cavalcante, estudante do Sesi e uma das integrantes da equipe responsável pela jujuba. A equipe também estuda uma forma de usar a Nutrinim no tratamento da perda do paladar pós-covid.
Ela conta que durante intervenções, como quimioterapia ou radioterapia, utilizadas para destruir células cancerígenas, outras células também acabam sendo afetadas pelo tratamento, o que pode causar quedas de cabelo, fadiga, náuseas, feridas, além da perda do apetite e do paladar. “No tratamento oncológico, quando os pacientes se submetem à quimioterapia, o processo acaba matando células benignas. A intenção é matar as malignas, mas as benignas também são afetadas. Na nossa boca tem células, chamadas papilas gustativas, e o tratamento acaba acometendo essas células e elas não têm tempo suficiente para se regenerar”, detalha.
A “guloseima” foi pensada inicialmente para ser fabricada a partir do óleo essencial de hortelã pimenta e do glutamato monossódico, uma espécie de composto químico utilizado para potencializar sabores de alimentos. Ao longo de testes e pesquisas nos laboratórios, a equipe incluiu na fórmula o óleo essencial de tangerina, que é o responsável por estimular as glândulas salivares e as papilas gustativas da língua. Os princípios ativos ajudam a descongestionar as vias aéreas e prometem proporcionar a volta do paladar em poucos minutos.
Cada componente da jujuba trabalha de uma forma no organismo. O óleo essencial de hortelã pimenta dá a sensação de aumento da temperatura da boca e, com isso, ocorre o estímulo das papilas gustativas da língua e intensifica o processo de salivação. A saliva é uma das responsáveis por manter a saúde bucal, além de facilitar o processo de mastigação e gustação. “O óleo de tangerina tem uma grande concentração de d-limoneno. Esse princípio é utilizado para que possa regenerar as células e nós os inserimos no decorrer do processo”, conta Cailany.
Já o glutamato monossódico é a forma mais pura do umami, o quinto sabor básico do paladar. Esse sal estimula alguns receptores específicos da língua. Por sua vez, o óleo essencial de tangerina tem a função de auxiliar na salivação do paciente e na regeneração das células, além de deixar a jujuba mais saborosa.
Sobre o uso da Nutrinim em pacientes acometidos pela covid-19, o professor Diego Bezerra, orientador do projeto, diz que ainda não há definições a respeito, mas existe a possibilidade de estender o uso da jujuba para auxiliar os efeitos da doença respiratória. “O nosso foco principal foi em cima do tratamento oncológico. As causas são diferentes. O paciente perde o paladar na covid por uma situação e por outra no tratamento oncológico, mas podemos futuramente aprofundar os estudos para saber se poderemos atender essa necessidade”, diz Bezerra.
A estudante Marialice Gomes, que também faz parte da equipe de desenvolvimento da Nutrinim, acrescenta que a jujuba também pode tratar outras patologias. Em parceria com o Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), os estudantes vão testar a eficácia da jujuba em pacientes com Síndrome de Sjögren, doença é autoimune, que faz com que o sistema imunológico ataque suas próprias células saudáveis. Nesse caso, as glândulas salivares e lacrimais são as afetadas e, como resultado, a pessoa sofre com secura na boca, nos olhos, além de inflamações.
“Além do tratamento dessa síndrome e de pacientes oncológicos, a Nutrinim deve servir para pessoas que estão com problemas na região bucal devido à perda de células. Se elas forem modificadas ou mortas, a nossa jujuba recupera essas células”, explica Marialice. Além de Cailany e Marialice, também integram a equipe os estudantes Gustavo Henrique, Dailton Lima e Elton Oliveira.
*Com informações da Tribuna do Norte