Faern teme que agricultores e indústria reduzam produção

Na Ceasa, os produtos já estão chegando mais caros, principalmente os hortifrutigranjeiros, que levam em conta a variável do frete/ Foto: Magnus Nascimento

Além de afetar o transporte, o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do RN (Faern), José Vieira, declara que, para evitar mais prejuízos, os agricultores e indústria podem reduzir a produção. “Sem sombra de dúvidas, o aumento do diesel tem causado uma preocupação muito grande. Muitos produtores podem reduzir áreas de produção em função do custo do plantio, além de reduzir o manejo da produção, a aplicação de defensivos, de adubação, isso acaba impactando também a produtividade”, argumenta.

“O óleo diesel tanto impacta nossa produção em si, dentro da propriedade, quanto na retirada dos produtos da propriedade para a cidade. Então nós temos dois impactos diretos, na produção e no transporte de nossos produtos para o comércio ou para o mercado de fora. Isso tem nos deixado preocupados. O resultado de tudo isso é o aumento do preço dos alimentos e isso é uma consequência. Os produtores têm tentado cada vez mais reduzir os seus custos para poder gerar um impacto mínimo possível na gôndola do supermercado”, explica Vieira.

O quadro é considerado “adverso” pelo presidente da Faern, que prevê uma situação de “estabilidade para cima” em relação ao preço dos produtos nas feiras e supermercados diante da insegurança econômica do País. Não é só o setor de produtos que sofre com a carestia do diesel, o sentimento de apreensão também aparece entre os próprios caminhoneiros, que veem o combustível subir na bomba a cada parada no posto de combustível. Na estrada desde 2004, Marcos William diz que pensa em vender a carreta e deixar o volante por causa dos altos custos.

“Para a gente não está valendo mais a pena, não tem condições porque hoje o combustível é 60% do que a gente ganha. Se fosse só isso ainda tava bom, mas é difícil manter um caminhão desses, a manutenção é cara. Antes dava para fazer oito fretes por mês, mas se fizer isso hoje, o gasto com combustível passa de R$ 35 mil, aí hoje eu só faço quatro. O valor do frete aumentou, mas o que sobra para a gente caminhoneiro é menos do que era antes, quando o frete custava menos”, conta o cearense, que transporta frutas entre Petrolina, Natal e Fortaleza.

O alerta chega até mesmo no setor de energia renovável, que teme alta nos custos operacionais, já que peças e equipamentos para a montagem dos parques eólicos, por exemplo, também são transportadas por via terrestre. “O setor está sempre atento a tudo que pode prejudicar sua competitividade. O aumento do preço dos combustíveis, que aumenta o preço do frete, alguns grandes componentes são importados ou que são fabricados no Brasil e são transportados por longas distâncias, então o transporte é um dos elementos de custos que é muito relevante. Por isso, há essa preocupação”, comenta Sandro Yamamoto, diretor técnico da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica).

Solução passa por mudança na política de precificação
Especialistas e representantes da cadeia produtiva potiguar afirmam, em consenso, que não há solução mágica para reduzir os danos do aumento do diesel, pelo menos no curto prazo, sem uma coordenação nacional, o que significaria uma mudança na política de precificação da Petrobras. No entanto, o economista Thales Penha diz que medidas podem ser adotadas para atenuar a dependência do diesel. Do ponto de vista prático, o professor universitário destaca que diminuir a pressão sobre os produtos de necessidade básica pode ser uma saída.

“Poderia colocar algum tipo de subsídio para as camadas mais pobres, não para todo mundo porque se você der isenção geral acaba beneficiando os mais ricos. Poderia se fazer uma desoneração em alguns produtos, mas localizados no pessoal inscrito no Cadastro Único. É uma medida para proteger essa população mais vulnerável, criar um cashback com o Nota Potiguar, por exemplo, você informa no caixa e aparece que você tem desconto lá na hora”, pontua Penha.

O presidente da Faern, José Vieira, aponta que produtores independentes e indústria já vêm utilizando alternativas para não parar a cadeia. Segundo Vieira, em relação ao combustível não há “muito o que fazer” e por esse motivo, os trabalhadores e empresas buscam economizar em outras fases da produção.

“Pode-se colocar sistema de energias renováveis para poder baixar custos, energia, principalmente quando se irriga muito. Tem empresas que estão buscando alternativas e implantar sistemas de energia para segurar os aumentos. Com relação à produção, isso tem sido uma tendência muito grande, muitos produtores têm utilizado fertilizantes biológicos, deixando, de certa forma, os adubos químicos. Acredito que isso vem para ficar porque além de abaixar o custo da produção, você consegue melhorar a qualidade dos produtos”, avalia.

*Com informações da Tribuna do Norte

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