Artigo de Ney Lopes: “Qual será o rumo do eleitor?”

Começou o processo eleitoral de 2018. No ar a indagação: o que estará na “cabeça” do eleitor?

Nunca o país assistiu uma eleição com a previsão de tantas incertezas, desânimo e temores. No RN, as últimas pesquisas mostram a previsão de dois terços do eleitorado ausente das urnas, nas eleições de governador e senador.

No Brasil, o número de eleitores “saltou”, em 73 anos, de cerca de 7 milhões em 1945, para quase 150 milhões em 2018 (20 vezes mais).

O maior índice de abstenção, nulo e branco ocorreu na eleição de JK em 1955 (43.41%), quase a metade dos votantes. Analistas políticos admitem que o ano de 2018 vá além de 1955.

Pela primeira vez, os brasileiros votarão, após o “tsunami” da Lavajato, que desnudou o comportamento de parte das classes política e empresarial, beneficiárias de gigantesco esquema de malversação de dinheiro público.

Igualmente, serão as primeiras eleições após o impeachment de 2016 e a ascensão do governo Temer, o mais impopular da nossa história, em cujo saldo constam mais de 14 milhões de desempregados e o recrudescimento da violência, com o índice de mais de 63 mil homicídios anuais.

Acrescente-se, ainda, a prisão do ex-presidente Lula, eterno candidato, bem situado nas pesquisas, embora alcance mais de 50% de rejeição popular.

Nesse contexto, o que estará pensando o eleitor?

As primeiras sondagens nacionais mostram a tendência de cerca de 60% dos cidadãos com direito a voto, não sabendo se irão às urnas. Esquerda, centro e direita se apresentam com a marca da rejeição da sociedade, pelos indícios da corrupção e do radicalismo exacerbado, que coloca em risco a própria estabilidade institucional do país.

Salvo mudanças no transcurso da campanha, vive-se hoje a sensação coletiva da dor e do caos, que estimula discursos messiânicos, raivosos e elitistas (transformando as pessoas em números estatísticos do mercado), recheados de promessas mágicas, ou pregação da força bruta, com o notório oportunismo de candidatos “pegando carona” no desgaste da classe política, combate a corrupção e a violência, sem a preservação dos laços da convivência civilizada da nação.

Outro aspecto relevante a considerar será a indispensável “representatividade” do eleito, para executar as mudanças.

Nas 11 eleições, desde 1945, o maior percentual alcançado foi de Eurico Gaspar Dutra, que obteve mais de 40% dos eleitores aptos a votar. JK teve apenas 20% dos votos. Nas eleições gerais brasileiras, a média de representatividade (1945-2014) é de 33%, ou seja, apenas uma terça parte. Estatísticos admitem que em 2018, se for repetida a abstenção de 1955 (JK), os votos válidos serão pouco mais de 85 milhões, permitindo que um candidato seja eleito com pequena “representatividade” em relação ao eleitorado inscrito.

Neste cenário, a partir de 30 milhões de votos já poderia haver vencedor do pleito.

Se colocada em debate à eleição proporcional, a previsão é de baixíssimo índice de renovação (talvez menor do que 49% das últimas cinco eleições).

Prevalecerão as “bases eleitorais”, azeitadas por uma legislação casuística e criminosa, que fez “vista grossa” ao uso do dinheiro público na distribuição de moeda sonante, ambulâncias, carro de polícia e outras dádivas, às vésperas da eleição.

A lei aprovada no Congresso travou a renovação legislativa e teve o endereço certo de garantir a “reeleição” dos atuais detentores de mandatos.

O fundo eleitoral, com mais de 2 bilhões de reais, é um “caixa privado” dos “donos dos partidos”, sem critérios e fiscalização. Como se não bastasse, no RN cada parlamentar federal recebeu 60 milhões de reais de emendas impositivas, todas elas com o dinheiro “já depositado” no cofre dos beneficiários, além de “verbas extras”, generosamente concedidas pelo presidente Temer para “barrar” o processo crime, que tramita no STF.

Em cenário devastado por essas práticas de “cooptação legalizada” pode-se falar em chances na renovação dos métodos de ação política?

Com tais sinalizações e evidências, qual o “rumo” do eleitor?

É impossível prever.

A pior alternativa será ele ausentar-se das urnas. Assim agindo, favorecerá que a desesperança seja, irreversivelmente, convertida em pesadelo.

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