O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, reagiu às críticas e “fogo amigo” do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, sobre a política de aproveitamento do gás natural no país. Na manhã desta segunda-feira (19), o presidente da estatal disse que não se baseia em achismos para tratar sobre a questão do gás e que o pensamento de Alexandre Silveira, além de ser antigo, já se comprovou que não é viável.
Na sexta-feira (16), o ministro acusou a Petrobras de ser descuidada e tratar com “desdém” a política de gás natural no país. Segundo Alexandre Silveira, o gás tem sido tratado como “subproduto” da indústria do petróleo, enquanto fábricas que usam esse insumo como matéria-prima no processo de produção industrial estão fechando. “São dois mil empregos perdidos por falta de preço e competitividade do gás”, afirmou o ministro, citando o fechamento de fábricas na Bahia e Sergipe.
O ministro afirmou que quase 45% do gás extraído pelas petroleiras no Brasil acaba sendo reinjetado nos poços. Segundo ele, o índice é inferior nos Estados Unidos (13%) e África (25%), o que demonstra que a situação é “completamente desproporcional”. Para o ministro, “a Petrobras tem que ser uma indutora também do crescimento nacional”.
“Não podemos negar e todos os investidores da Petrobras, quando adquirem, querem saber qual é o plano de investimento, de voo. Eu entendo que a política quer uma empresa que dê lucro, mas não perca no horizonte o seu papel social, que é, por exemplo, estimular a produção de gás, ampliar as formas de escoamento de gás para a costa brasileira”, disse. “Entre agradar o Jean Paul e cumprir um compromisso do Governo de gerar oportunidade, emprego e combater a desigualdade, eu prefiro que ele feche a cara e que nós possamos lograr êxito”, completou.
Para Jean Paul Prates, o ministro fala sobre o tema sem propriedade e sem ter o real conhecimento sobre a situação no Brasil. Segundo o presidente da Petrobras, o tema já tem sido discutido desde a gestão de Fernando Henrique Cardoso e o que falta, nesse momento, é a definição sobre a prioridade para utilização do gás que, segundo ele, não é suficiente para todas as demandas.
“Eu acho assim, nós estamos discutindo muito isso, né? O ministério, não apenas o ministro, tem uma visão que já perpassou outros governos, que é essa visão de que o gás do Brasil vai ser a redenção de algum setor. E cada um defende o seu. Pedro Parente lá atrás, em Fernando Henrique Cardoso, depois Ildo Sauer, nos governos Lula, com o negócio de massificação do gás e vai por aí. Chegou em Paulo Guedes, também com o programa do gás. Ninguém nunca parou para pensar por que isso nunca deu certo? Por que nenhum deles conseguiu massificar o gás? Porque não tem gás suficiente para isso tudo”, disse Jean Paul, que continuou.
“Então, nossa tese não é de ‘eu acho’, é uma tese real. E a gente está conversando e explicando. O ministro faz a declaração dele e vai, obviamente, tomar conhecimento de outras coisas. Quando a pessoa chega, recebe muitas informações, de vários tipos, técnicas, lobbys, pessoas e políticas. Quando você vai para a prancheta, lá do seu ministério técnico, você tem realmente que obedecer a realidade. O fato é que a Petrobras jamais se recusou a tentar aumentar a oferta de gás brasileira. Isso é uma coisa, outra coisa é dizer que tem gás para indústria, termoelétrica, fertilizante, indústria petroquímica e ainda para os mercados que tem gás canalizado, como no Rio de Janeiro e São Paulo, que são dois mercados grandes, quando chega gás natural em sua casa, num fogão. Não tem para tudo isso”, explicou.
No entendimento de Jean paul Prates, é preciso que o país defina a prioridade na utilização do gás natural. “O Estado brasileiro, em algum momento, precisa decidir: ‘olha, nós vamos privilegiar o uso do gás natural que a gente tem, para fertilizante, por exemplo, ou para a indústria, mas aí não vai para a térmica, ou vai para a térmica, mas não vai para a indústria ou não é para a cozinha’. Tem que ter algum jeito de arrumar isso daí”, disse.
Tribuna do Norte