As tempestades que provocaram tragédias pelo país, com enchentes, deslizamentos e até mesmo a queda do paredão que matou 10 pessoas em Capitólio (MG), precipitada pela força da erosão provocada pelas águas, vão continuar.
As cenas de devastação vistas em Minas Gerais e na Bahia nas últimas semanas, com cidades submersas, servem de alerta para os próximos dias. Chegarão a outras regiões e virão acompanhadas de novos problemas, como calor extremo.
A conflagração climática deve causar transtornos, com riscos expressivos, a estados das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte (temporais) e Sul (calor extremo, muito acima da média).
Tudo isso é resultado da mistura explosiva de um fenômeno natural do verão, chamado de Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), com frentes frias provenientes da Bolívia e com o La Niña, uma massa de ar frio que se une com a umidade do tempo quente e aumenta as chuvas.
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu, até sexta-feira (14/1), pelo menos três alertas vermelhos com perigo ou grande perigo, seja por chuvas intensas ou forte calor.
As precipitações que devastaram a Bahia e Minas Gerais têm previsão para chegar nos próximos dias com risco expressivo para Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás, Mato Grosso e Tocantins.
O grau de severidade climática emitido para Minas Gerais abrange regiões como Belo Horizonte, Sete Lagoas e Conselheiro Lafaiete. O perigo de chuvas fortes e persistentes continua ao menos até esta terça-feira (11/1), com precipitações mais amenas a partir de quarta-feira (12/1). Por mais um dia, os mineiros podem esperar chuva superior a 60 mm/h ou acima de 100 mm/dia.
Esse alerta do Inmet é emitido quando há grande risco de alagamentos e transbordamentos de rios, deslizamentos de encostas, em cidades com tais áreas de risco.
Mortos e desabrigados
Minas Gerais tem hoje, segundo boletim da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, 145 municípios em situação de emergência. Até o momento, 10 pessoas morreram devido ao deslizamento de parte de um cânion, no Lago de Furnas, em Capitólio. O desastre ocorreu após uma cabeça d’água.
Em todo o estado, 3.409 pessoas estão desabrigadas e 13.734 ficaram desalojadas devido às chuvas, ao risco de barragens transbordarem e por causa de deslizamentos de terra.
A trégua para os dias chuvosos só começa a partir de sexta-feira (14/1). “Até terça-feira, haverá grandes volumes de chuvas na Região Metropolitana de Belo Horizonte e em parte do Rio de Janeiro. Quinta começa a diminuir e, na sexta, o Sol deve voltar a aparecer”, afirma o meteorologista do Inmet Mamedes Luiz Melo. Segundo ele, serão mais quatro ou cinco dias com chuvas e uma trégua com Sol.
Sete dias
As previsões da MetSul Meteorologia são de piora para esta semana. De acordo com os prognósticos, os volumes de chuva projetados pelos modelos para os próximos dias são muito altos no território mineiro, com marcas que devem ficar entre 100 mm e 200 mm em diversos municípios, e acima de 200 mm em algumas localidades.
Ao contrário do Inmet, a MetSul projeta chuva para os próximos sete dias, de acordo com modelo meteorológico alemão Icon.
Com isso, o risco geológico de deslizamentos será altíssimo, de acordo com a MetSul, e a probabilidade de alagamentos e inundações ocorrerem é muito alta.
Bahia
Na Bahia, onde as enchentes desabrigaram 26.534, desalojaram 61.551, deixaram 26 mortos e 520 feridos até agora, as previsões começam a melhorar.
Embora 164 municípios ainda estejam com decreto de situação de emergência, as chuvas já caem com menor intensidade e frequência.
“Um fenômeno normal do verão chamado Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) foi intensificado por outras duas forças e fez com que as chuvas caíssem por mais tempo e com maior intensidade na Bahia. Isso ocorreu nas cabeceiras dos rios e em regiões com barragens, o que as fez transbordar. Por isso, as enchentes”, explica o meteorologista Mamedes Luiz Melo.
Os outros dois fenômenos citados pelo meteorologista são frentes frias que vieram da Bolívia e se uniram com o calor e a umidade, agravando a situação.
Perigo
Alertas de perigo ainda demandam atenção para a Região Serrana do Rio de Janeiro. As fortes chuvas podem provocar deslizamentos em áreas com topografia favorável.
O alerta vermelho do Inmet também abrange São Paulo, chegando a Goiás, passando também por cidades de Minas Gerais, como Patrocínio e Uberlândia.
O Tocantins e Mato Grosso também sofrem com o fenômeno da Zona de Convergência do Atlântico Sul ( ZCAS), intensificado pelo La Niña, uma massa de ar frio que se une à umidade do tempo quente e aumenta os temporais.
Onda de calor
Enquanto as chuvas têm assustado os moradores da Região Sudeste, parte do Nordeste, com a Bahia no centro da crise, atingindo também o Maranhão e o Piauí, o calor será o problema para os moradores da Região Sul.
O alerta de perigo do Inmet, nesse caso, é para temperaturas 5 ºC acima da média normal pelos próximos cinco dias.
A temperatura pode passar dos 40 ºC, com umidade menor do que 30%. Nesse caso, a previsão é de que todo o Rio Grande do Sul seja afetado.
Entenda a mistura de fenômenos
De acordo com o Inmet, normalmente, durante o verão ocorrem chuvas mais espaçadas. As precipitações são rápidas e fortes, mas param. No fenômeno que provocou as tragédias na Bahia e em Minas, as chuvas mostraram-se permanentes.
Isso ocorreu devido a influências sobre a tradicional Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), que é um corredor de umidade estendido por partes das regiões Norte e Sudeste do Brasil, passando também pelo Nordeste.
“Estamos no verão no Hemisfério Sul. Nesta época, alguns fenômenos começam a se destacar. Uma alta umidade vem da Bolívia para a Região Norte e empurra muita umidade para o oeste do país. Há ainda o La Niña, que provoca um resfriamento das águas do Pacífico equatorial e provoca chuvas mais abundantes no Norte e Nordeste.”
O La Niña provoca no Brasil chuvas fortes e abundantes, aumento do fluxo dos rios e inundações subsequentes no Norte e no Nordeste, além de seca no Sul.
Com informações do Metrópoles