Campanha termina sem debate e política vira rivalidade entre torcidas
Os 147 milhões de brasileiros que estão aptos a votar chegam hoje (28) às urnas sem terem tido a oportunidade de ver os dois candidatos que pleiteiam o maior cargo do país exporem os detalhes de suas propostas de governo. Também não puderam ver questionada a viabilidade delas.
A ausência de debate num segundo turno de disputa pela Presidência da República é inédita na redemocratização – e talvez seja a síntese da eleição de 2018, em que a racionalidade e a maturidade política estiveram, como nunca, distantes.
Mesmo liberado pelos médicos, Jair Bolsonaro (PSL) optou, como estratégia de campanha, por não correr o risco de perder, com sua impulsividade, pontos nos debates.
O eleitor não sabe dizer o que Bolsonaro ou seu adversário Fernando Haddad (PT) farão imediatamente, caso assumam o Palácio do Planalto, para, por exemplo, reverter o desemprego, que atinge 13 milhões de trabalhadores e suas famílias.
Ninguém tem na ponta da língua a grande medida de seu candidato, mas qual brasileiro, incentivado pela propaganda de seus presidenciáveis, não discutiu ou ouviu falar do risco iminente de o Brasil virar a caótica Venezuela ou voltar a ser uma ditadura? E o destino tenebroso ocorrer, paradoxalmente, como resultado do voto – exatamente o clímax da democracia?
Um catastrofismo que não resiste a uma breve análise histórica ou a fatos ocorridos ontem mesmo, que reiteram a força das instituições brasileiras. Reafirmada, por exemplo, quando o STF proíbe a invasão policial das universidades e a Justiça impõe tornozeleira eletrônica para o coronel da reserva que ameaçou e xingou magistrados.
Regada a fake news, que já inscreveu no futuro do PSL uma investigação por crime eleitoral, a campanha presidencial de 2018 foi certamente a mais violenta, a começar pela facada levada por Bolsonaro.
Violência que, apesar de condenada pelos candidatos, ganhou espaço nas ruas, na forma de animosidade entre torcidas.
No último dia de propaganda eleitoral, os dois candidatos mantiveram, na voz dos locutores, os pesados ataques mútuos. Foi a eleição em que se pediu mais o voto contra o adversário do que a favor da própria candidatura. Basta lembrar os movimentos #EleNão versus #PTNão.
O tom impressionista e emocional predominou nos discursos e o imaginário foi longe na campanha. A ponto de a Justiça Eleitoral ter de mandar um candidato parar de se apresentar com a cara de outro. Hoje, abertas as urnas, se imporá para o vencedor o Brasil real.
Agência Brasil