Jair Bolsonaro tornou-se personagem de um drama clínico com potencial para marcar a história. Retirado da campanha por um golpe de faca, terá de passar por uma segunda cirurgia de grande porte. Seu estado, informa a equipe do Albert Einsten, ainda é grave. É improvável que retorne às ruas nas quatro semanas que restam de campanha. Difícil saber quais serão suas condições clínicas no dia da eleição.
Vencida a fase do susto e a etapa da solidariedade coletiva, chega-se ao estágio mais delicado: o gerenciamento das informações sobre o paciente. Nas primeiras horas, aliados de Bolsonaro insinuaram que o atentado renderia votos. Subordinaram a saúde do esfaqueado ao marketing da facada. Depois, sinalizaram que a recuperação seria rápida. Praticaram quiromancia hospitalar.
Saúde de candidato à Presidência é coisa tão séria a saúde de presidente. Para sorte de Bolsonaro, ainda sujeito a infecções, proibiram-se as visitas que davam à UTI a aparência de palanque de redes sociais. Nessa hora, convém afastar do paciente os magos que tramam transformar lesões graves no intestino em tônico eleitoral.
Tudo ficará melhor se a saúde de um presidenciável com potencial para chegar ao segundo turno for tratada como assunto de interesse público, aos cuidados de médicos que se pronunciem por meio de notas oficiais rigorosamente técnicas.
JOSIAS DE SOUZA