Cenas de dor, desespero e revolta foram registradas dentro do Hospital Municipal Aluízio Bezerra, no município de Santa Cruz, no interior do Rio Grande do Norte, nessa quinta-feira (28). Dois pacientes que eram atendidos na unidade hospitalar perderam as vidas em poucos minutos de diferença.
As vítimas foram identificadas como Manoel Ferreira da Silva, idoso que não teve a idade revelada, e Hanna Cecília da Silva Venâncio, de 27 anos. O que chama a atenção é que o socorro médico prestado a um pode ter influenciado na morte do outro.
Em vídeos compartilhados nas redes sociais, os familiares do idoso denunciaram que houve negligência por parte do hospital. Segundo eles, o oxigênio que era utilizado para manter o homem vivo foi retirado para dar suporte à jovem, que chegou à unidade passando mal.
“Isso é um descaso. Meu pai estava no oxigênio, ele não estava morto. Aí por negligência desse hospital, deixa meu pai morrer, tira o oxigênio dele. Isso não pode acontecer”, denunciou uma filha do idoso logo após receber a informação de que o pai havia falecido.
Ellen Salviano, diretora clínica do hospital, indicou que realmente houve a retirada do oxigênio do idoso para a jovem. No entanto, segundo a médica, a sala de estabilização da unidade hospitalar possui ponto extra de oxigênio, não sendo a necessária a transferência do ponto. O ocorrido já está sendo apurado.
“Entramos com um processo administrativo para investigar o caso. Os corpos foram encaminhados para o Serviço de Verificação de Óbitos para a gente ter o diagnóstico das causas das mortes. Se foi por falta de oxigênio ou pela doença base, no caso de Seu Manoel, e o que provocou a morte da Hanna, se foi uma alergia ou se foi por causa de alguma outra doença”, declarou.
Segundo a diretora, a possibilidade de alergia foi levantada, pois a jovem já havia recebido os primeiros atendimentos quando o quadro médico piorou. “Hanna deu entrada com uma queixa de dor no estômago. Foi atendida e medicada. Ao iniciar a medicação, ela passou mal. Ela negava queixas alérgicas a qualquer tipo de medicamento. Antes de terminar, ela teve um mal súbito e levada para a sala de estabilização”, explicou.
Foi nesse momento que o drama tomou conta do hospital. “Nós temos três leitos na sala de estabilização, todos com oxigênio canalizado, mas os três estavam ocupados. A paciente ficou na maca em que estava sendo atendida. Mas nós temos oxigênio de retaguarda. A denúncia é que foi retirado o oxigênio para prestar o socorro mais imediato a Hanna, enquanto o oxigênio de retaguarda era colocado [no idoso]”, detalhou.
De acordo com Ellen Salviano, a equipe de plantão era experiente. Um dos médicos teria afirmado que apenas pediu um ponto de oxigênio para estabilizar a jovem. A diretora disse ainda que se, caso se confirme que houve negligência, os envolvidos serão responsabilizados corretamente. “O enfermeiro do plantão disse que foi retirado [o oxigênio]. No momento da urgência, se questionou quem teria retirado. Ainda não tivemos a oportunidade de conversar com a família de Seu Manoel para saber o que de fato aconteceu”, faltou a diretora.
“Se foi retirado, quem retirou? Por que retirou? Por que não pegou o de retaguarda? É isso que vamos investigar. Se foi retirado de fato e porque foi retirado”, afirmou a médica. Ela ainda complementou que “pode ter pensando em priorizar um paciente que tinha chance de salvar”, ao frisar que Manoel Ferreira da Silva já tinha condição de saúde grave, segundo a diretora clínica.
Em nota, a Prefeitura de Santa Cruz se posicionou e reforçou o que foi dito por Ellen Salviano. “Diante das denúncias, estamos apurando minuciosamente todos os fatos. Os corpos foram encaminhados ao Serviço de Verificação de Óbitos (SVO) onde aguardamos o resultado das autópsias para melhor esclarecimento”, declarou.
Ainda no documento, a administração municipal citou que não houve falta de insumos para o atendimento dos pacientes. “A sala de estabilização é equipada com ventilador mecânico, pontos de oxigênio canalizados, cilindros de oxigênio de retaguarda, além de equipamentos necessários para atendimento de urgência, como desfibrilador, que foi, inclusive, utilizado durante o atendimento à paciente, em nenhum momento houve falta ou desabastecimento de oxigênio ou de qualquer insumo”, assegurou.
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