Lançado em junho do ano passado, o livro “Enxergando além do Atlântico: uma jornada ao Reino Unido” (Ed. Jovens Escribas), do jornalista e escritor Fernando Campos, voltou a chamar atenção nesta semana: a obra entrou na lista dos mais vendidos no site Amazon, em três categorias. Para o autor, cujo livro relata uma experiência de aventura no exterior vivida por ele mesmo, um deficiente visual, o feito é uma surpresa muito bem vinda, não apenas por projetar a literatura potiguar, mas também por chamar a atenção para uma causa que ele vive e aborda há anos.
“Eu fiquei sem palavras quando soube. Isso é motivo de euforia pra qualquer escritor, claro”, conta. Fernando havia participado, no último domingo (23), do quadro The Wall, no Domingão com Huck, programa mais visto da TV Globo nesse dia da semana. No dia seguinte, ele foi informado sobre a procura que o colocou no topo dos mais vendidos da poderosa Amazon. “Enxergando além do Atlântico” emplacou os primeiros lugares nas categorias “viagens e casos verdadeiros”, “biografias aventureiros” e “biografias de comunidade”.
Fernando sabe que a participação no programa de Luciano Huck é a responsável pelo novo interesse do público por seu livro, mas não vê problema nisso – pelo contrário. “A carga de informação positiva é muito grande. É o sentido real da representatividade. Um livro escrito por um cara cego, nordestino e gay estar entre os mais vendidos, significa muito. Serve para derrubar preconceitos, combater estereótipos, e enfraquecer o capacitismo, que é uma luta constante para quem tem algum tipo de deficiência”, afirma.
O livro contou com um bom feedback na época do seu lançamento, mas nada comparado com o que está acontecendo agora. “Eu sei que agora estou chegando a muita gente que não é potiguar, que não me conhece, mas que de alguma forma se identifica com a minha história, e tem interesse por aquilo que eu relato no livro”, diz. Ele explica que “Enxergando” é um livro sobre perrengues de viagem que podem acontecer a qualquer um, mas que também ganham uma dificuldade a mais pelo fato de referir a uma pessoa cega.
O livro, que tem prefácio assinado por Carlinhos Brown, é uma grande aventura pessoal sobre a ousadia de sair da rotina e da zona de conforto. Uma narrativa de incentivo para quem deseja fazer intercâmbio ou encorajar pessoas a não se limitarem, com esclarecimentos dos processos e como colocar em prática um sonho.
Fernando conta os detalhes de todas as etapas, desde a decisão de uma vivência internacional “sozinho”, a agência, a escolha da escola com estrutura para recebê-lo, as adaptações, as emoções, a saudade, oferecendo uma grande experiência motivadora para outras pessoas – deficientes visuais ou não.
A narrativa conta uma história real de descobertas com gente de vários lugares do mundo, novas amizades, curiosidades sobre diferenças culturais e confusões inusitadas, saudades, reflexões e ensinamentos. A obra, segundo Fernando, quer ir além de um relato sobre alguém com deficiência, mas também oferecer um texto leve, de entretenimento puro.
Fernando perdeu a visão aos dois anos de idade em decorrência de um tumor maligno ocular. A luta contra o câncer motivou a família de Fernando a fundar a Casa de Apoio à Criança com Câncer Durval Paiva, instituição referência no país no tratamento de crianças e adolescentes com câncer. Em 2015, teve um novo câncer na tireóide e conseguiu a cura pela segunda vez.
O rapaz se formou em jornalismo e passou a fazer palestras motivacionais pelo Brasil. Na novela “Malhação” de 2011, teve um personagem inspirado em sua história. Para diminuir preconceitos e promover a inclusão, ele tem o canal no Youube “Na visão do Cego”, em que apresenta curiosidades de seu cotidiano. Fernando conta que tem planos de lançar mais livros, no terreno ficcional, de contos, e um romance.
Campanha
Os novos leitores também prometem trazer outros engajamentos para Fernando. Ele foi ao The Wall com a missão de angariar recursos para informatizar o Instituto dos Cegos do RN. Após o programa, Luciano Huck lançou uma campanha de financiamento coletivo online. A meta é de R$300 mil – até o momento já arrecadou quase R$192 mil. “A tecnologia foi e é fundamental pra mim, revolucionou minha vida. A ideia é que ela possa fazer o mesmo às pessoas do instituto”, diz. O escritor está bastante otimista com o rumo da campanha.
Com informações Tribuna do Norte