Laboratório registra 20 casos de mormo no RN em 1 mês; São Paulo do Potengi é notificado

O médico veterinário José Arimateia esclarece que a doença é passada aos humanos por meio do contato da pele com secreções de animais infectados

Dados da Clínica e Laboratório Saffary, credenciada pelo Ministério de Agricultura e Pecuária, mostram que o RN registrou 20 casos positivos da doença mormo em animais,distribuídos em nove municípios, nos últimos 45 dias. O número de casos da zoonose – que atinge principalmente equídeos, como cavalos, jumentos, etc – equivale ao registrado nos últimos sete anos em território potiguar e corresponde aos casos confirmados por meio de exames. Nos últimos 30 dias, conforme a associação de laboratórios credenciados para realizar o exame no Brasil, a Rede-Pnse, mais de 370 casos de mormo foram confirmados no país.

No caso do Rio Grande do Norte, de acordo com a Clínica e Laboratório Saffary, até o momento quase todas as amostras positivas passaram pelo processo de reteste no MAPA, responsável por notificar os órgãos estaduais que atuam na fiscalização da doença. Ao todo, estão entre os municípios com animais positivos para a doença São José de Mipibu, Pedro Velho, Extremoz, Ceará-Mirim, São Gonçalo do Amarante, Macaíba, São Paulo do Potengi, João Câmara e Vera Cruz.

O médico veterinário José Arimateia, Secretário-Geral e fundador do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Norte (CRMV-RN), esclarece que o Mormo é uma doença infecciosa causada pela bactéria Burkholderia mallei, sem caráter sazonal e que pode ser facilmente transmitida para os humanos. Os grupos mais vulneráveis são aqueles que apresentam contato direto com equídeos, como é o caso dos tratadores. A doença não tem tratamento em animais. Não há casos em humanos no RN.

Conforme o veterinário George Vilar, da Clínica e Laboratório Saffary, os exames para identificar a doença são realizados principalmente em animais que vão participar de eventos como vaquejadas, cavalgadas, exposições e provas de esporte. O problema, adverte, é que apenas cerca de 10 a 15% dos animais que vão concorrer em provas de esporte realizam o exame, dada a falta de fiscalização voltada à prevenção da entrada de animais infectados pelo mormo.

Ainda, segundo ele, uma das linhas de pensamento que podem explicar o maior surgimento de casos de mormo é o retorno dos eventos que aglomeram animais com o fim da pandemia da covid-19, favorecendo a circulação e transmissão da doença. “É dever do Estado como órgão público alertar a população. Então a Secretaria de saúde tem que investigar através das suas regionais todas essas fazendas que se tem desses municípios para que as pessoas tenham um acompanhamento. Essa doença é muito pouco conhecida dentro da classe médica”, argumenta George Vilar.

O médico esclarece que, após registrarem um caso positivo de mormo por meio de exame nos animais, o Laboratório tem 24h para notificar o caso junto ao MAPA. A pasta, por sua vez, notifica imediatamente ao Instituto de Defesa e Inspeção Agropecuária (IDIARN), responsável por recomendar aos proprietários dos animais a realização do sacrifício do animal infectado e a interdição da fazenda, além de informar à secretaria estadual de saúde sobre o cenário de casos.

Em resposta à TRIBUNA DO NORTE, a Secretaria de Saúde Pública do Rio Grande do Norte (Sesap/RN) informou a pasta não apresenta registros de casos da doença em humanos no Estado e que até o momento não foi notificada pelo MAPA e Idiarn sobre notificações positivas em animais.

A preocupação pela notificação acompanha o fato do mormo ser uma doença facilmente transmitida para os seres humanos e com sintomas semelhantes a algumas doenças respiratórias. O médico veterinário José Arimateia esclarece que a doença é passada aos humanos por meio do contato da pele com secreções de animais infectados e apresenta difícil diagnóstico. “Quando as pessoas vão à óbito, nunca tem um diagnóstico de mormo porque ela se parece com outras doenças infectocontagiosas na área respiratória”, destaca.

Nos animais, a doença demora a manifestar os sinais, que inclui problemas respiratórios, secreção nasal e úlceras nas narinas, e não apresenta chances de cura. De acordo com o médico veterinário do CRMV-RN, o mormo deve ser tratado como problema de saúde pública e a única maneira de combatê-la é por meio da realização de testes periódicos em rebanhos.

Em nota à TRIBUNA DO NORTE, o IDIARN informou que segue acompanhando os casos positivos de mormo e aguardando a confirmação dos números no Estado pelo laboratório federal de defesa agropecuária (LFDA). O IDIARN só atua no caso quando comunicado oficialmente pelo MAPA.

Tribuna do Norte

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