Artigo Ney Lopes: “Qual deve ser a posição de Bolsonaro em Davos?”

Ney Lopes – jornalista, ex-deputado federal e advogado – [email protected]

O “capitão” Jair Bolsonaro, talvez nunca tenha pensado estar presente hoje, na condição de uma das principais “estrelas”, no “Fórum Econômico e social”, promovido por fundação privada desde 1969, na chamada “montanha mágica” (“Cantão Grisões”), uma comunidade de alto luxo (Davos), com menos de 20 mil habitantes, localizada nos alpes suíços.

O que se espera do presidente Bolsonaro em Davos?

Em resumo é que a posição brasileira seja de nem “tanto ao mar, nem tanto ao peixe”.

Quem tenha bom senso, torce pelo sucesso do presidente Bolsonaro.

Entretanto, há inegáveis riscos, caso ele ceda totalmente às pressões da sua equipe econômica.

Por exemplo: seria desastroso o anúncio, por recomendação do mercado financeiro, do sistema de capitalização da previdência social no país, no modelo chileno da época de Pinochet, para servidores civis e militares.

Não se justifica que o trabalhador entregue mensalmente a sua poupança ao mercado financeiro privado para aplicações e aguarde na velhice, ou invalidez, a sua renda de sobrevivência.

Caso isso seja adotado, certamente existirão riscos de novas Capemis, Aplub, Família Militar e outras organizações do passado nacional.

Os principais temas em discussão no Fórum serão estabilidade da democracia, riscos de avanço do autoritarismo e garantia da liberdade de imprensa, pré-condições essenciais para atrair investidores.

Lá se reúnem todos os anos, no final de janeiro, personalidades, políticos, investidores internacionais, e até homens de letras (o escritor Paulo Coelho é permanente “convidado de honra”).

A Nação espera que o Presidente tenha os “pés no chão” e busque “equilíbrio”, entre a necessidade das mudanças e a realidade social do país, evitando ser “mais realista que o rei”, com agravamento das tensões sociais, na tentativa de agradar em demasia “o mercado”.

Os capitalistas reunidos em Davos sabem que “Roma não se fez em um dia”. Democracia exige tolerância. Veja-se o impasse atual dos Estados Unidos, com o governo “parado” há mais de um mês.

Por que só o Brasil tem que aprovar mudanças da noite para o dia?

Por tais razões, as reformas necessárias ao Brasil terão que ser graduais e dividirem “sacrifícios”, o que dará credibilidade ao governo.

As reformas poderão até inovar o processo legislativo (uma sugestão), através de “legislações temporárias”, com tempo pré-fixado de vigência, como forma de avaliar a eficácia real das medidas adotadas, favorecendo o capital e o trabalho.

Nunca é demais lembrar a advertência do arquimilionário George Soros (tradicional convidado de Davos e a 29º pessoa mais rica do mundo), de que o fundamentalismo de mercado “está sempre errado”, o que justifica a necessidade de intervenções e regulações para retificá-lo.

No processo de mudança a balança não pode “pender” apenar um só lado que sempre paga o pato (assalariados e serviço público).

O último Refis perdoou R$ 47,4 bilhões em dívidas. A desoneração da Previdência causou “rombo” superior a 600 bi.

A sonegação aproxima-se de 1 bi. Em 2017, as renúncias fiscais (isenções, incentivos, juros diferenciados) somaram R$ 354.7 bi, superior aos déficits da Previdência Social e do regime de aposentadorias dos servidores federais (270 bi).

Segundo o TCU, 84% dessas renúncias têm prazo indeterminado, o que torna permanente a perda de arrecadação.

A esperança é que o Presidente Bolsonaro preserve às suas origens pessoais de classe média, pertencente a uma instituição respeitável como as forças armadas, cuja tradição não é do “laissez-faire”, a cruel teoria econômica, na qual mercado e economia funcionam livremente, sem regulações, transformando pessoas humanas em estatísticas de computador, expostas à guilhotina social.

Nessa ótica, as teses ortodoxas dos “Chicago Boys”, que desejam a curtíssimo prazo alcançar superávits econômicos, terão que ser contrabalançadas com a advertência do relatório da fundação inglesa “Oxfam” (“Recompensem o trabalho, não a riqueza”), divulgado em Davos nesta segunda feira, 21, que mostra 82% da riqueza global em 2018 nas mãos do 1% mais rico.

Absolutamente nada restou para os 50% mais pobres.

No Brasil, quem ganha um salário mínimo (cerca de 23% da população brasileira) precisa trabalhar por 19 anos seguidos para ganhar o mesmo que uma pessoa do grupo do 0,1% mais rico ganha em um mês.

Os 43 bilionários brasileiros detêm patrimônio equivalente ao da metade mais pobre da população do país.

Não se trata de condenar a riqueza, porém essa concentração de renda não poderá continuar, até para garantir estabilidade e segurança, na sociedade e nos negócios.

Os antecedentes históricos de “Davos” permitem que o presidente Bolsonaro, além de anunciar o combate sistemático à corrupção e incentivos à economia, demonstre também preocupações sociais e humanas.

Em que pese à aparência elitista desse Fórum de celebridades foi Thomas Mann, intelectual do século XX (ganhador do Nobel de Literatura), quem inspirou a sua realização, em 1929.

Ele previu, no livro “Montanha mágica”, que o objetivo do debate seria ajudar a criação de nova ordem social, que libertaria a humanidade de sofrimentos desumanos e injustos.

Os picos da “montanha mágica de Davos” continuam até hoje a simbolizar o local ideal, para a humanidade tramar o seu destino.

Permanece a mística, de que a altura dos Alpes suíços favorece uma maior proximidade dos Deuses, os verdadeiros inspiradores e iluminadores dos caminhos humanos.

Nessa montanha nevada voam e sussurram espíritos cultos de tempos remotos, que sob as bênçãos de Deus inspirarão o Presidente Bolsonaro, para que ele anuncie ao mundo “um novo Brasil”, com economia livre e estável, instituições políticas democráticas, humano, cristão e solidário.

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