Ney Lopes – advogado, jornalista e ex-deputado federal – [email protected] – www.blogdoneylopes.com.br
Em editorial na última segunda, o “Estado” afirmou: “Se há um ano alguém dissesse que Jair Bolsonaro tinha alguma chance de se eleger presidente da República, provavelmente seria ridicularizado”.
No início do processo eleitoral, o autor deste artigo opinou que seria inadmissível, em razão da convivência com ele no Congresso Nacional e saber das suas posições históricas como político militante há 30 anos.
Entretanto, diante da degradação da classe política em geral, o Capitão encantou o eleitor e ganhou, como antítese do lulopetismo. Ponto final! Não há o que discutir.
No Rio Grande do Norte, a senadora Fátima Bezerra chega ao Palácio Potengi para governar Estado falido.
Não será fácil vencer o desafio.
Com vivencia, adquirida ao longo de vários mandatos legislativos, terá que demonstrar competência, imparcialidade e criatividade como gestora pública.
De agora por diante, só resta torcer para que o vencedor seja o Estado Democrático. Nunca é demais recordar a advertência de Montesquieu, de que para evitar o abuso do poder é necessário que o poder seja freado, assegurando o equilíbrio.
São os chamados “freios e contra pesos”, traduzidos na independência e harmonia do Executivo, Legislativo e Judiciário, poderes que terão de estar acima de todos os outros segmentos da sociedade, sem restrições e tutelas, com absoluto respeito às suas decisões.
Desacreditar nessa regra é adotar a selvageria dos regimes de exceção, de direita ou de esquerda.
Na Alemanha em 1933, os nazistas queimaram mais de 20 mil livros, revistas, fotografias e publicações de filósofos, cientistas, poetas, de escritores judeus, de homossexuais, pacifistas, antimilitaristas, sobre sexualidade e outros assuntos considerados não éticos.
Como sempre acontece, tal barbárie consumou-se, a pretexto da defesa da pátria, moral, família e o combate à degeneração dos costumes.
No local desse crime existe hoje monumento com o nome dos autores das obras queimadas, para que aquele sinistro acontecimento não se repita. Numa lápide lê-se a frase do poeta Henrich Heine: “Onde se queimam livros, no final também se queimam pessoas”.
Outro exemplo histórico é de Winston Churchill. Como líder britânico da Segunda Guerra ergueu a resistência ao ditador alemão Adolf Hitler e recebeu consagrações populares, porém conheceu como poucos os dois lados da moeda: popularidade e o desprezo posterior.
Em 1945, no fim da II Guerra Mundial, a sua reeleição para primeiro-ministro era indubitável. Abertas as urnas, perdeu.
Por quê?
Pelo fato do povo temer o seu estilo, ao perceber que ele só acreditava em métodos violentos, de guerra e uso da força militar. Churchill não tinha projeto para a paz, visando à união da Grã-Bretanha e reconstrução social do país.
A democracia não é um sistema desprovido de mecanismos eficazes de combate à corrupção e a violência, como alega a ultra direita.
Ela pode ser forte, com base na lei, quando aplicada. Punitiva, sem negar o direito de defesa.
No período “pós-eleição” que se inicia no Brasil, a “busca da união nacional”, sem adesismos, coloca-se como a única alternativa capaz de evitar os graves riscos das ameaças da intolerância e da força.
Torna-se impossível governar país dividido. Receita para união nacional seria o estímulo à formação de coalizão, com moderados de lado a lado, capazes de fazer concessões, desencorajar as lutas radicais, as disputas, a violência e fortalecer a convivência, tolerância, direitos humanos, respeito à crítica, legalidade, eleições livres e alternância de poder.
Com situação política muito mais grave do que o Brasil, a Colômbia deu exemplo recente e pacificou uma guerra interna de 52 anos.
O líder das Forças Alternativa Revolucionária, Timochenko, resumiu o pacto colombiano ao dizer, que “paz não significa que “o capitalismo e o socialismo vão soluçar abraçados um nos braços do outro. Mas que a disputa ideológica agora poderá ser feita sem armas, através da política e da democracia plenas”.
No México, o extremista Andrés Manuel López já apela à conciliação nacional.
Lembrando César diante do Rubicão, os brasileiros exclamam: “Alia jact est” (A sorte está lançada).
Ao mesmo tempo é repetida com fé, a oração do teólogo Reinhold Niehbuhr, desejando ao Presidente Jair Bolsonaro e a Governadora Fátima Bezerra, que “Deus lhes dê serenidade para aceitar as coisas que não possam mudar, coragem para mudar as que possam mudar e sabedoria para saber a diferença”.
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