No futebol terminou a Copa do Mundo. A partir de sexta feira, 20 de julho começa a Copa do voto”, com o início do prazo para realização das convenções partidárias e definição das candidaturas, que terminará em cinco de agosto.
Sobre os jogos de Moscou, difícil responder as razões da nossa desclassificação. Um fato incontestável é explicado por Luís Fernando Veríssimo: “Crepúsculo dos Deuses seria um título adequadamente wagneriano para essa Copa. Divindades caíram dos seus pedestais”.
Em principio, total injustiça atribuir o insucesso a incompetência de Tite e dos jogadores. Os números mostram que a seleção dominou o jogo final com a Bélgica. Perdeu no mínimo 10 gols, acertou bola na trave e teve um pênalti claro e incontroverso não marcado. No placar, dois gols do Brasil (um contra), contra um marcado pela Bélgica.
Afinal, o que faltou ao Brasil: competência ou sorte? Napoleão alinhava três fatores para ganhar a guerra: bons soldados, armamento eficiente e “sorte”. Seria mera coincidência, a semelhança desses conceitos napoleônicos com o futebol? Atribuir o sucesso a sorte gera polêmica. Não se nega ser fundamental fazer com eficiência o dever de casa. Mas, isso não basta. Competência é fruto do talento e do trabalho. Sorte é a oportunidade, que independe da competência. Muitas vezes, a oportunidade aleatória vence o talento e o trabalho. O importante será lutar, começar de novo, fazer escolhas profissionais acertadas, preservar valores humanos e acreditar sempre.
Sobre a “Copa do voto”, que começa no Rio Grande do Norte, muitas indagações pairam no ar. Dois fatores se sobressaem: o curtíssimo espaço de tempo para mostrar os candidatos e o elevadíssimo grau de indefinições sobre o comportamento do eleitor.
Pelas últimas pesquisas, aplicadas por institutos locais idôneos, só não enxerga quem não queira. São evidentes os reduzidos índices de apoio e os expressivos percentuais de ausência do eleitor nas urnas (favorece os aliados de Lula). Caso as pesquisas se confirmem será um preço elevadíssimo, a ser pago por aqueles que insistam e não entendam a voz prévia das ruas. Avaliações sobre as causas dessa realidade apontam várias hipóteses. Duas delas: o “enclausuramento” dos partidos, transformados em “casa grande de fazendas” e o fato das novas exigências do eleitor não serem levadas em conta pelas siglas, nas escolhas de candidatos. Usam-se critérios antigos para agregar aparentes e falsos apoios eleitorais, que o eleitor rejeita, pelo oportunismo revelado.
Na história política estadual, sempre prevaleceram verdadeiras armaduras em torno dos partidos, favorecendo “grupos” e “amigos” com interesses pontuais, regra geral pessoas sem vocação e sem o mínimo de espirito público. Tais fatores dificultaram o surgimento de propostas, realmente inovadoras. Percebe-se que a escassez não é do “novo”, mas de valorização da experiência política e competência no lançamento de candidatos, independente de terem ou não exercido mandatos eletivos, ou idade biológica.
Por outro lado, o momento nacional é de profundas mudanças. Ninguém se engane: o eleitor “abriu os olhos”. Nos distantes rincões do país, o what up, facebook, blogs e outros meios da Internet detalham informações instantâneas sobre os candidatos. No RN, praticamente não se conhecem propostas. Na disputa pelo executivo, o que existe de concreto para julgamento popular é a bem avaliada experiência administrativa de Carlos Eduardo na PMN e o desempenho de Robinson Faria no governo, além da impetuosidade ideológica da senadora Fátima Bezerra, agregando o lulismo.
Na escolha legislativa estadual (senador e deputados) a desertificação é maior. Nada de ideias, ou apresentação de obra legislativa de mandatos anteriores, a ser continuada. A esperteza é premiada, com o uso notório da máquina pública para “prometer” votos e apoios no “mercado eleitoral”, através de “pseudos” serviços prestados, “vitaminados” pelos “convênios” viciados e nutridos pelo dinheiro público. De outra parte, vê-se a notória manipulação de legendas, construindo “nominatas”, a serviço unicamente de interesses privados e chantagens de bastidores.
No futebol, o sonho do Brasil hexa está transferido para 2022. Afasta-se também o sonho do “novo Brasil” brotado das urnas de outubro, diante do crescimento da decisão do eleitor de “não votar”. Se essa tendência prevalecer, pela total e absoluta ausência de candidatos com vocação e espírito público, também na política o sonho será adiado para 2022. A dúvida é se as instituições resistirão até lá.
Ney Lopes – jornalista, ex-deputado federal e advogado – [email protected]
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