Após uma série de atritos na relação do governo com oCongresso , Jair Bolsonaro se reúne nesta quinta-feira, no Palácio do Planalto, pela primeira vez com presidentes de partidos que espera atrair para a base aliada de olho na votação da reforma da Previdência. Até semana que vem, devem ser recebidas pelo presidente nove legendas, que somam 259 deputados e 53 senadores.
O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que deve participar das conversas, disse que a ideia é iniciar uma série de convites para que os partidos integrem formalmente a base aliada. Nos bastidores, porém, há pressão para que sejam liberados cargos no segundo e terceiro escalão do governo, hipótese admitida ontem pelo vice-presidente, Hamilton Mourão.
O vice-presidente chegou a dizer que, caso as legendas concordem com as propostas do Planalto, poderão ganhar cargos no Executivo. Marcos Pereira (PRB) e Gilberto Kassab (PSD), por exemplo, que estarão hoje nas conversas, já foram ministros. No governo Temer, o PP comandou as pastas da Saúde e da Agricultura, e o PSDB acumulou seis ministérios.
— A partir do momento em que esses partidos estejam concordando com o que o governo pretende fazer, é óbvio que eles vão ter algum tipo de participação, seja em cargos nos Estados, algum ministério ou algo do gênero. Isso é decisão do presidente, né? — disse Mourão, ao deixar seu gabinete no anexo do Palácio do Planalto, ontem.
Além de Kassab e Pereira, serão recebidos, em sessões individuais, Geraldo Alckmin (PSDB), ACM Neto (DEM), Ciro Nogueira (PP) e Romero Jucá (MDB). Outros presidentes de partidos serão recebidos na próxima semana. PSL, SD, PR e Podemos estão na lista de prioridades do governo.
— Para que nós tenhamos uma base constituída, precisamos dialogar. Convidar e abrir a porta: é o que a gente está fazendo — disse Onyx.
Partidos alinhados
Com exceção de ACM Neto, os presidentes de partidos que serão recebidos por Bolsonaro hoje fizeram ontem uma conferência por telefone para alinhar a postura no Planalto. Combinaram de mais ouvir do que falar, e que o melhor é evitar pedido de cargos ou outras queixas.
Dirigentes demonstram desconfiança e cautela diante do encontro, e lembraram do episódio da semana retrasada em que Bolsonaro declarou que “alguns não querem largar a velha política”, dias depois de se encontrar com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
Em fevereiro, o governo chegou a dizer que criaria um “banco de talentos” para indicações políticas no segundo e terceiro escalão. Por enquanto, contudo, as nomeações estão congeladas. As regras para o uso da base de dados com currículos, como a exigência de adequação à Ficha Limpa, começam a valer em 15 de maio. Os cargos, porém, não envolvem secretarias importantes do Executivo, o que continua gerando insatisfação entre deputados.
Outras medidas também já foram aventadas pela equipe do governo para tentar agradar aos parlamentares. Durante a transição, Onyx cogitou colocar placas com o nome de deputados e senadores em obras federais tocadas com recursos obtidos por emendas parlamentares. A estratégia de negociar com bancadas temáticas também não foi adiante.
O ex-senador Romero Jucá diz que há um “desgaste coletivo” nos acontecimentos que antecederam o convite e que a abertura para uma conversa indica uma possível mudança de postura do presidente.
— É um convite do presidente, então nós vamos ouvir. Não vamos discutir detalhes (sobre a Previdência). Há um desgaste coletivo, mas a gente não tem que olhar para trás. Sempre é hora de melhorar as coisas — disse Jucá ao GLOBO.
Kassab criticado antes
Um vice-líder do governo ouvido pelo GLOBO demonstrou ceticismo em relação às conversas e comentou que a ambição do centrão (DEM, PP, SD e PRB) por cargos não será resolvida tão facilmente.
Na lista de convidados de Bolsonaro, estão nomes que já foram duramente criticados por ele em outras ocasiões. No dia 6 de setembro, em Juiz de Fora, horas antes de sofrer uma facada, o presidente referiu-se a Kassab como “porcaria”, em entrevista ao SBT:
— Você (repórter) sabe quem é o ministro da Ciência e Tecnologia? É o senhor (Gilberto) Kassab. Não sabe a diferença de lei da gravidade para gravidez. O que essa porcaria está fazendo lá? Botando seus apadrinhados, vendendo voto do seu partido para o (Michel) Temer e vai vender para o (Geraldo) Alckmin — disse o então candidato.
O GLOBO