Guerra destrói sonho de potiguar na Ucrânia

Edson aguardava o início da temporada no futebol ucraniano para fazer seu primeiro jogo pela sua equipe, mas a guerra parou tudo/ Foto: REPRODUÇÃO VIDEO

O clima de tensão que assola a Rússia e a Ucrânia deixou o natalense Edson Fernando em estado de alerta. O jogador de futebol, de 23 anos, assinou contrato recentemente com um clube ucraniano e estava prestes a fazer sua estreia, que terá de ser adiada. A situação deixou familiares e amigos preocupados e o potiguar, com outros amigos que moram na Ucrânia, conseguiu deixar o País e está a caminho da Polônia, onde deve ficar pelas próximas semanas.

“A gente não espera que isso aconteça, vim atrás do meu sonho. Infelizmente isso está acontecendo, mas adianto que estou bem, meus amigos aqui estão bem, tanto os estrangeiros quanto brasileiros”, disse o atleta em vídeo gravado nas redes sociais.

Edson mora na cidade de Lviv, que fica próximo à fronteira com a Polônia. A cidade é distante 500 km da capital Kiev, principal alvo do bombardeio russo. No entanto, a preocupação de familiares e fãs fez com que ele afirmasse publicamente que está bem.

Após os episódios, a Federação Ucraniana desistiu de retomar o campeonato, paralisado pelo forte inverno no leste europeu. Apesar da distância de Lviv do epicentro da tensão entre os dois países, Edson afirmou que medidas estão sendo tomadas na cidade, como sirenes sendo tocadas, e o comércio sendo fechado.

“O campeonato aqui vai ser suspenso, iria recomeçar nesse final de semana. Hoje não teve treino. A situação está tensa, mas mais na capital e nas cidades próximas com a fronteira com a Rússia. Aqui graças a Deus está tranquilo e espero que as coisas se normalizem, que não tenham vítimas e isso passe o mais rápido possível”, disse.

O pai de Edson, Francisco Gomes, 47 anos, disse que, ao saber das notícias de conflitos armados na Ucrânia, passou o dia preocupado com o filho. “Quem é que não fica preocupado com uma situação dessa? Não consegui nem trabalhar hoje direito com isso que está acontecendo na Ucrânia”, disse.

A Web Soccer, empresa que representa o jogador, utilizou as redes sociais para afirmar que o jogador estava em segurança “Aproveitamos para estender nossa solidariedade aos atletas que estão na Ucrânia nesse momento”, afirmou a empresa.

Essa foi a primeira vez que o atleta Edson jogará fora do Brasil. Ele defendeu o Bahia até janeiro e saiu sem custos rumo ao futebol europeu. Antes do Tricolor baiano, ele defendeu o Globo, de Ceará-Mirim, e o Alecrim, clube da capital pelo qual foi revelado.

Outro atleta potiguar que está no epicentro do conflito é o lateral esquerdo Ayrton Lucas, 24 anos, que joga no Spartak Moscou, da Rússia. A reportagem procurou o atleta, mas ele informou que foi orientado a não conversar com a imprensa.

Cenário pode resultar em rescisões
Diante da invasão do território ucraniano pelo exército russo, a incerteza diante do futuro dos atletas que atuam no futebol do país dominou os noticiários. Jogadores brasileiros foram às redes sociais nesta manhã de quinta-feira, 24, pedir ajuda ao governo para conseguirem deixar o país do Leste Europeu, em segurança.

Seguindo o decreto da Lei Marcial, instaurado pela Ucrânia, a liga ucraniana de futebol foi suspensa por tempo indeterminado. O torneio retomaria as atividades nesta sexta-feira, após o fim das férias do inverno europeu para a segunda parte da temporada 2021-22.

O receio de uma intensificação dos conflitos armados no país pode levar aos jogadores e à Fifa tomarem medidas extraordinárias. Segundo advogados e especialistas no direito internacional e esportivo, o cenário político terá impactos diretos sobre o esporte e abrirá margens para que essas decisões excepcionais sejam adotadas, para a segurança dos atletas e seus familiares.

“Uma guerra, seja ela aonde for, deixa uma série de consequências em todos os níveis e no futebol não seria diferente, já que haverá uma paralização das competições. O eventual prolongamento da guerra fatalmente gerará uma situação de insegurança para os residentes no país e poderia levar os jogadores estrangeiros a tentarem uma rescisão contratual com os clubes ucranianos perante o órgão competente da Fifa, numa disputa que seria bastante complexa e de difícil solução”, pontuou Eduardo Carlezzo, advogado especializado em direito esportivo.

A possível rescisão contratual desses jogadores, em especial os brasileiros, não será novidade. Nos últimos dois anos, por conta de restrições sanitárias provocadas pela pandemia da covid-19, Roger Guedes e Renato Augusto conseguiram a liberação de seus clubes. Nesse caso da Ucrânia, clubes como Shaktar Donetsk e Dínamo de Kiev, podem sofrer com essa “fuga” dos atletas.

Brasileiros gravam apelos ao governo
Jogadores brasileiros que atuam no futebol da Ucrânia gravaram um vídeo nesta quinta-feira, dia 24, pedindo socorro e ajuda para deixar o país. Atletas de Shakhtar Donetsk e Dínamo de Kiev, dois dos principais clubes ucranianos, estão reunidos em um hotel na capital Kiev com seus familiares, mulheres e filhos, desde que a Rússia declarou guerra e iniciou um ataque à nação vizinha. Mísseis foram lançados no país. Havia uma esperança para impedir a guerra com a diplomacia. Por isso os clubes de futebol retornaram para a Ucrânia. Eles estavam na Turquia.

No vídeo, compartilhado pelos jogadores nas redes sociais, eles contam que falta combustível na cidade e que o espaço aéreo da Ucrânia está fechado, dificultando qualquer deslocamento de avião. Vias terrestres e ferroviárias são os prováveis caminhos para deixar o país neste momento. Eles pedem ajuda do governo brasileiro para conseguir voltar para casa. O Itamaraty está trabalhando no assunto.”Cada um saiu correndo de suas casas para o hotel, com uma peça de roupa e não sabemos como vai ser. Pedimos ajuda para resolver a nossa situação”, disse a mulher de um dos atletas brasileiros. Todos estão bem.

Atuando no Shakhtar Donetsk desde 2018, o atacante Fernando, ex-Palmeiras, é um dos brasileiros a falar no vídeo. Ele faz um apelo às autoridades brasileiras e afirma que “não tem como sair do país”. Júnior Morais, outro brasileiro no futebol da Ucrânia, disse que a situação é “grave” e aguarda uma solução (do governo) para deixar o local. Todos os estrangeiros na Ucrânia estão na mesma condição. O Estadão mantém o repórter Eduardo Gayer em Kiev.

Com informações da Tribuna do Norte

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