Contrariando previsões, o presidente Jair Bolsonaro confessou a interlocutores que retorna nesta terça-feira (17/9) aos despachos da Presidência porque não quer prolongar a estadia do vice, Hamilton Mourão, por mais tempo no comando. A expectativa era de que ele voltasse ao cargo apenas na quinta-feira. Nesta segunda-feira (16/9), Mourão esteve no Rio Grande do Norte onde se encontrou com a governadora do estado, Fátima Bezerra (PT). No Planalto, fontes comentam que Bolsonaro não se sente confortável com a agenda política do vice e que o próprio Mourão havia recebido a sugestão de cancelar a agenda no Rio Grande do Norte.
O presidente interino também participou nesta segunda-feira (16/9) do 7º Encontro Empresarial Brasil-Alemanha (EEBA). No mês passado, Bolsonaro se indispôs com a chanceler alemã Angela Merkel por questões envolvendo o Fundo Amazônia. Bolsonaro teria sido aconselhado a cancelar viagens, como a prevista para o Japão, para não deixar Mourão na Presidência. Mourão por sua vez, já havia minimizado a polêmica e voltou a defender que tem um consórcio com Bolsonaro. “O presidente Bolsonaro e eu fomos eleitos por um movimento popular, que combinou uma onda de indignação e um vigoroso movimento de resgate do país e de seu orgulho como nação”, disse nesta segunda-feira (16/9), durante discurso no evento.
Mourão também fez afagos ao país europeu: “A Alemanha é a principal economia europeia e quarta maior economia mundial. Primeiro parceiro comercial de nosso país na Europa e quarto no contexto global. Fonte tradicional de investimentos para o desenvolvimento brasileiro, com estoque de cerca de US$ 20 bilhões, cerca de 1,6 mil empresas alemãs instaladas, sendo São Paulo uma das maiores concentrações industriais alemãs fora daquele país”, apontou, mas fez questão de destacar a soberania do Brasil perante a Amazônia.
Bolsonaro retornou a Brasília nesta segunda-feira (16/9) à tarde, após alta médica do Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, onde passou pela quarta cirurgia após facada durante período eleitoral no ano passado. O procedimento foi realizado no último domingo (8), dessa vez, para correção de uma hérnia incisional.
Na entrada para o Alvorada, disse, que sancionará nesta terça-feira (17/9) o Projeto de Lei nº 3.715/19, que autoriza a posse de arma em toda a extensão de propriedades rurais. Atualmente, a posse é permitida apenas na extensão da sede. “Não vou tolir (sic) ninguém de bem a ter sua posse ou porte de arma de fogo”, declarou, sem deixar claro, contudo, se despachará do Alvorada ou do Palácio do Planalto.
O presidente também não informou se sancionará integralmente o texto ou vetará algum trecho. “Eu não vi o projeto ainda, vou ver amanhã”, justificou. Bolsonaro conversou com a imprensa da porta do carro, nem se aproximar da imprensa. Tão pouco fez afagos aos apoiadores presentes no Alvorada. Sinalizou, contudo, o desejo de retomar a comunicação quando estiver bem. “Volto à atividade 100% depois dos Estados Unidos”, afirmou, em referência à viagem que fará para Nova York na terça-feira da próxima semana, onde participará da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
Minutos depois da chegada ao Alvorada, Bolsonaro publicou um comentário no Twitter, celebrando o retorno a casa e alfinetando o prisioneiro Adélio Bispo, responsável pelo atentado. “Com a graça de Deus, passamos bem por mais um processo cirúrgico decorrente dos reflexos causados pela tentativa de assassinato cometida por ex-membro de partido de esquerda! Finalmente de volta ao conforto do lar, junto à minha filha e voltando ao trabalho! O Brasil tem pressa!”, declarou.
Sanções
O presidente confirmou a sanção apenas do PL nº 3.715/19, cujo prazo final para sanção é até esta quarta. No entanto, outros três projetos também têm data-limite para chancela até esta quarta-feira (18/9). É o caso do PL nº 2.438/2019, que altera a Lei Maria da Penha para dispor sobre a responsabilidade do agressor em ressarcir o Estado dos custos relacionados aos serviços de saúde prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) às vítimas de violência doméstica e familiar.
Outro projeto a ser sancionado é o nº 3.220/2015, que estabelece o direito de as mães amamentarem seus filhos durante a realização de concursos públicos na administração pública direta e indireta dos Poderes da União. O outro texto é o PL 8.240/2017, que reconhece a vaquejada como manifestação da Cultura Nacional. Caso nenhum desses projetos seja apreciado por Bolsonaro, todos entrarão em vigor da forma integral aprovada no Congresso.
O retorno de Bolsonaro à capital federal decorre de uma melhora significativa do quadro clínico. O boletim médico divulgado nesta segunda-feira (16/9), informou que ele continuará a recuperação em domicílio, no Palácio da Alvorada, “devendo seguir as orientações médicas relacionadas à dieta recomendada e atividade física”.
O zelo por uma melhor recuperação de Bolsonaro motivou, inclusive, o adiamento da viagem dele aos Estados Unidos. A previsão inicial era de que ele embarcasse no domingo. Agora, a decolagem ocorrerá na próxima segunda-feira. Antes, ele passará por um último monitoramento da equipe médica que o atendeu em São Paulo, em uma das cinco unidades da Rede D’Or na capital federal.