Artigo Ney Lopes: “Um potiguar no 11 de setembro dos Estados Unidos”

Ney Lopes – jornalista, ex-deputado federal e advogado – [email protected]

Hoje dia 11 de setembro.

Há exatamente dezoito anos, a história do mundo, nunca mais seria a mesma. O planeta assistiu perplexo, ao vivo na TV, “dois” atentados terroristas contra as famosas Torres Gêmeas (Word Trade Center em NY), um ao Pentágono (sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, em Washington DC) e um avião caiu na Pensilvânia, cujo objetivo seria atingir a Casa Branca e o Capitólio (Congresso Americano). Quase três mil pessoas morreram.

À época morava em Brasília. Naquele dia, logo cedo, fui indagado pelo motorista, se conhecia as Torres Gêmeas, de Nova York. Respondi sim e ele avisou: “estão pegando fogo”. Na linguagem de hoje achei “fake news”. Porém, na dúvida liguei a televisão: imagens horripilantes, pessoas se jogando dos prédios, pedestres tentando livrar-se da nuvem negra de fumaça e outras cenas apocalípticas.

Imaginei que os atentados se restringiam à cidade de Nova York. Todavia, em minutos vi na TV uma coluna de fogo e fumaça, que saía da fachada do “Pentágono” em Washington DC, contra a qual impactou o voo 77 da American Airlines, depois de sequestrado por cinco terroristas sauditas.

A notícia causou pânico a mim e a Abigail: o nosso filho, Ney Lopes Júnior, morava em Washington DC, onde cursava o Mestrado de Direito Econômico na “American University” e extensão universitária de “Ciências Políticas”, na Universidade George Washington. Aflitos, procuramos localizá-lo pelo telefone.

O nosso maior temor era pelo fato da Universidade onde estudava localizar-se a menos de dois quilômetros de distância do poderoso prédio do Pentágono, núcleo do sistema de defesa americano.

Falamos com Ney Jr uma vez, em razão das ligações terem sido interrompidas, por mais de seis horas. No contato, ele ainda estava nos corredores da Universidade e acompanhava o terror em telões.

Confirmou o ataque ao Pentágono, que acabara de acontecer. Disse que se propagava o “boato” de que a III Guerra Mundial começara e que o rio Potomac – abastece de água a capital americana- já estaria contaminado, caracterizando guerra biológica.

Posteriormente relatou, que a Universidade foi evacuada pela Polícia. Alunos e professores saíram a pé pelas ruas desertas, apelos dramáticos, orações de joelhos, cenas semelhantes a filmes de Steven Spielberg. O povo estampava o medo na face. Ninguém confiava em ninguém. Cada um era terrorista em potencial.

As incertezas aumentaram, diante da informação de que havia um quarto avião de passageiros sequestrado rumo à Washington DC, que acabou caindo na Pensilvânia (abatido pela Força Aérea americana), frustrando o alvo dos terroristas.

As rodovias, o metrô e o porto de Baltimore, que abastece Washington DC, tudo interditado. Abriam as portas apenas farmácias, supermercados, o essencial para a sobrevivência da população. Suspensas, por mais de 15 dias, as aulas da “American University”.

Passada a tragédia, lembro dos relatos de Ney Jr acerca das cenas de constrangimento, vividas por alunos árabes e muçulmanos, seus colegas, que frequentavam a mesma Universidade. Foram jogados contra as paredes pelos policiais, revisados e isolados.

O 11 de setembro mudou os valores da Democracia americana.

O então presidente George W. Bush aprovou no Congresso o “USA Patriot Act”, que concedeu ao governo a prerrogativa de, numa democracia, poder invadir lares, espionar cidadãos, interrogar suspeitos de espionagem ou terrorismo (inclusive empregando tortura) sem lhes dar direito à defesa ou a julgamento. Ou seja, medidas antidemocráticas, que tolhiam as liberdades civis, consideradas necessárias para salvar a própria democracia.

O prejuízo econômico provocado pelos atentados foi de US$ 123 bilhões, somente nas primeiras quatro semanas. Os danos causados às Torres Gêmeas corresponderam a US$ 60 bilhões. As companhias aéreas afetadas receberam uma ajuda governamental de US$ 15 bilhões. Os seguros cobrados por parentes das vítimas dos atentados chegaram a US$ 9,3 bilhões.

Ney Lopes Jr, o potiguar que testemunhou o 11 de setembro em Washington DC, hoje advogado e vereador em Natal, sempre repete que “só sabe o risco da guerra e do terror quem passou pelo que eu passei. Graças a Deus sobrevivi. A paz é o bem maior da humanidade. Por isto, luto por ela em todas as situações. Somente o amor e a solidariedade constroem”.

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