DANIEL CARVALHO – BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A jornalista Elisangela Machado dos Santos de Freitas, que disputou uma vaga na Câmara dos Deputados como Elisa Robson (PRP-DF) no ano passado e não se elegeu, destinou mais que a metade dos recursos que recebeu do fundo eleitoral ao próprio marido.
Administradora do perfil República de Curitiba, página simpática a Jair Bolsonaro, a jornalista agora foi contratada para trabalhar no gabinete de um dos filhos do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), como ela mesma divulgou na quinta-feira (7) no Facebook.
Segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Elisa, que se apresentava nas redes como “a federal do Bolsonaro no DF”, recebeu R$ 25 mil do fundo criado para financiar campanhas políticas e sua maior despesa, R$ 14,9 mil (59% do total), foi com o próprio marido, o engenheiro Ronaldo Robson de Freitas. A candidata obteve 11.638 votos (0,81% dos votos válidos).
Pela declaração que consta na Justiça eleitoral, o analista da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) recebeu R$ 10 mil para “serviços de coordenação de campanha eleitoral”, R$ 4 mil para “locação de equipamento para gravação de vídeo” e outros R$ 900 para “serviço de divulgação de campanha”.
O contrato de R$ 10.900, firmado entre Elisa e Ronaldo em 26 de agosto do ano passado, indica que ele ficaria responsável “pela gestão de pessoas e de material de campanha, bem como monitoramento da divulgação do nome da candidata em ambiente virtual” de 16 de agosto a 7 de outubro.
Com data de 9 de setembro, Ronaldo emitiu um recibo de R$ 900 pelo trabalho de “monitoramento das redes sociais”. Em 5 de outubro, foi assinado um outro recibo, de R$ 10 mil, por “coordenação de campanha”. Os dois serviços, segundo os recibos, foram concluídos dois dias antes da data estipulada no contrato, no dia 5 de outubro. Também no dia 9 de setembro, Ronaldo assinou documento em que diz ter recebido R$ 4 mil pela “locação de equipamentos para gravação de vídeos”.
Ronaldo é engenheiro mecânico com mestrado em Ética e Gestão, segundo seu perfil na página da Embrapa, onde trabalha desde 2007. É analista na área de Patrimônio e Suprimentos da Secretaria-Geral.
A Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, informou que, durante a campanha eleitoral, Ronaldo gozou de duas licenças médicas.
“No período de julho a outubro de 2018 foram registradas duas ausências por motivo de saúde: uma entre 13 e 17 de agosto e outra entre 3 e 5 de outubro, ambas por meio de atestado médico”, informou a empresa em nota.
Procurado pela Folha de S.Paulo na sexta-feira (8), Ronaldo respondeu a apenas uma pergunta da reportagem sobre os serviços que prestou.
“Estão todos discriminados e apresentados à Justiça eleitoral bem detalhadamente. Você pode pegar os documentos e montar uma matéria e colocar onde você entender que seja melhor veiculado”, disse o engenheiro antes de encerrar a ligação.
A reportagem procurou também Elisa, que informou apenas que já havia se manifestado nas redes sociais.
Em seu perfil no Facebook -a mesma em que informou, no dia anterior, ter começado a trabalhar com Flávio Bolsonaro-, a jornalista escreveu que a Folha de S.Paulo havia procurado o marido dela para saber como ele participara da campanha.
“Explico: meu esposo gerenciou todo o trabalho que foi feito de comunicação nas redes sociais”, afirmou na postagem.
“Ele administrou as informações, os posts patrocinados, a produção de pequenos vídeos e os poucos recursos financeiros que precisaram ser gerenciados (com gasto total de R$ 30 mil. Inclusive, nossa família de 5 pessoas está sem carro até o hoje porque decidimos dar prioridade financeira para a minha campanha na época)”, publicou a candidata derrotada.
POR FOLHAPRESS