Nas últimas semanas, foram divulgadas as previsões para o Oscar 2026, citando o longa brasileiro O agente secreto em categorias como melhor filme internacional, melhor direção para Kleber Mendonça Filho e melhor ator para Wagner Moura. A potiguar Tânia Maria foi um dos nomes que se destacou, mencionada como possibilidade de indicação a melhor atriz coadjuvante.
Segundo a Variety, Tânia ocupa a 25ª posição no ranking de atrizes cotadas. Já a Hollywood Reporter a coloca em 17º lugar. Embora as listas não garantam indicação, a presença da brasileira acima de nomes como Sissy Spacek, Laura Dern e Mia Goth trouxe atenção para sua trajetória iniciada apenas aos 72 anos.
Moradora de Cobra, um povoado de Parelhas, no interior do Rio Grande do Norte, Tânia começou no cinema como figurante em Bacurau (2019), dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. Foi nesse período que conheceu diretores e produtores que acabaram abrindo novas oportunidades de atuação.
“Conheci Kleber na hora do almoço. Eu era figurante em Bacurau e estava almoçando em Barra. Figurante não fica muito perto dos donos, mas ele me chamou. Estavam Kleber, Juliano Dorneles (codiretor) e Leonardo Lacca (preparador de elenco) numa mesa. Ele falou: ‘vem aqui almoçar com a gente, conta um pouco da sua vida’”, recorda Tânia.
Com aquele encontro, vieram convites para novos trabalhos. Leonardo Lacca a chamou para o documentário Seu Cavalcanti, atualmente em cartaz, Juliano Dornelles a incluiu na série Delegado, com estreia prevista para 2026, e Tiago Melo a levou para Yellow Cake, rodado na Paraíba.
Kleber Mendonça Filho revelou que a personagem Sebastiana, de O agente secreto, foi escrita pensando em Tânia. “Todo mundo sabe que eu escrevi “O agente secreto” especificamente para o Wagner (Moura). Queria muito trabalhar com ele. Mas quando comecei a escrever este personagem da Sebastiana, não conseguia não pensar em dona Tânia, escrevi pensando nela e nas coisas que ela falaria”, disse Kleber.
No longa, Sebastiana abriga o personagem de Wagner Moura em Recife. Tânia visitou a cidade 15 vezes durante as filmagens e conta que enfrentou alterações no roteiro após decorar suas falas.
“Fiquei tão feliz quando fui convidada e fiz tudo para agradar. A dona Sebastiana foi um prazer a minha vida, e gravar com Wagner Moura não tem nem comparação. Eu ainda sou artesã. Eu fabrico conjunto de banheiro e tapete reciclando tecido de sofá. Levei um kit de banheiro para o Wagner. Ele é um amor, ele me ensinou muito. Ele me ensinou que se a gente errar uma cena, não é para parar. Continua, aí que vem atrás fecha a porteira”, relatou.
Antes de atuar, a potiguar nunca havia entrado em um cinema. Hoje, afirma querer seguir na profissão. “Fui para Bacurau sem pensar em ser atriz. Fui ser figurante, mas fui fazendo amizade com os atores, com os diretores. Agora quero continuar. Quanto mais filmes, melhor. Quando fui para Brasília (para sessão de O agente secreto no Palácio da Alvorada), o pessoal do povoado falou para eu pedir a Lula para asfaltar a estrada, para fazer um campo de futebol. Quando acabou a sessão, Lula se abraçou comigo, me deu um cheiro e disse: “O que a senhora está precisando?” E eu respondi: de filme. Eu não tenho carro, não jogo bola, então eu pedi mais filme. E ele disse que vai ter”.
Com compromissos de divulgação em Tocantins e no Rio de Janeiro, Tânia vê com leveza a repercussão internacional. “Eu deixei de ir para França (para a estreia em Cannes) porque eu era fumante e não conseguiria ficar 12 horas sem fumar. Agora eu parei de fumar, mas ainda não tenho coragem de ir para fora. Mas no Brasil, pode botar que eu vou. Não sei nem o que é Oscar, mas fiquei contente demais só de ter meu nome na lista, é uma honra muito grande”, concluiu.
Com informações do Globo.