Cancelar Carnaval público e manter folia privada não impedirá transmissão da Ômicron no RN, diz pesquisador da UFRN
Com ou sem Covid-19, o Brasil terá o feriado de Carnaval em 1º de março de 2022. Mas as festas que acontecem na data não serão realizadas em muitos municípios, por causa da variante Ômicron e do surto de gripe. No Rio Grande do Norte, pelo menos 16 cidades suspenderam oficialmente a folia pública. Entre elas, apenas Caicó, no Seridó potiguar, deixou claro que eventos privados também estão proibidos.
Para o professor do Departamento de Física da UFRN e membro do Comitê Científico do Nordeste, José Dias do Nascimento Júnior, é adequado não realizar nenhum tipo de aglomeração até o Carnaval. A medida se faz necessária para evitar o aumento de contágio pelo vírus, que segue fazendo vítimas no RN. A cautela é recomendada especialmente por causa da Ômicron. A variante foi responsável por 100% dos testes positivos de coronavírus na primeira semana de janeiro deste ano no estado potiguar, segundo boletim de vigilância epidemiológica divulgado pela Rede Corona-ômica, ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.
“A proibição dos carnavais oficiais não irá impedir que festas privadas mantenham um nível elevado de transmissão do vírus, pois a variante Ômicron é muito mais eficiente na sua transmissão quando comparada com as versões anteriores, como a Delta. Ou seja, a velocidade do avanço da Ômicron é extremamente rápida e, no Rio Grande do Norte, como em parte do Nordeste, a disseminação será mantida devido a concentração de pessoas nas praias, festas, em encontros casuais de proximidade e lugares onde a máscara não será utilizada”, explicou.
O pesquisador acredita que o RN segue na formação do seu pico de novos casos de Covid-19 em 2022. O argumento baseia-se na nota técnica do Observatório Covid-19, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), emitida no último dia 3. Os dados mostram que a ocupação de leitos de terapia intensiva do Sistema Único de Saúde (SUS) para adultos com a Covid-19 superou 80% no Rio Grande do Norte e na capital potiguar, Natal. Ambos estão na chamada zona de alerta crítico.
“A quebra da transmissibilidade exige uma barreira eficiente, rápida nos próximos dias e isso não é trazido se não pela quebra brusca da rede de contágio através de distanciamento social. Até 24 de fevereiro de 2022, época do carnaval, devemos construir uma situação de regressão da doença nesse período, ao invés de deixar o quadro atual se expandir”, comentou.
Sobre o assunto, o Comitê Científico do Consórcio Nordeste, pediu o cancelamento do feriado de Carnaval para reduzir o avanço da variante Ômicron, mais transmissível que outras cepas. As recomendações constam em boletim destinado aos estados e municípios da região, que realiza festejos tradicionais na data.
O governo de Pernambuco, por exemplo, confirmou,no último dia 8, o cancelamento de festas de carnaval em todo o estado e proibiu a realização de eventos de qualquer tipo entre os dias 25 de fevereiro e 1º de março, a sexta pré-carnavalesca e a Terça-Feira Gorda, respectivamente. A proibição vale para espaços públicos e privados.
De acordo com o documento do Consórcio Nordeste, a manutenção dos feriados de carnaval e seus festejos pode estimular que as pessoas saiam de casa, promovendo aglomerações. No entanto, a entidade reconhece que a decisão terá prejuízos econômicos, o que torna a sua implementação mais dificultosa.
“O Comitê Científico tem clareza sobre as dificuldades políticas e os prejuízos econômicos decorrentes desta medida. Porém, o mais importante no momento é salvar vidas. E vidas não têm preço! Naturalmente, após o término da pandemia, novos feriados extraordinários poderiam ser criados pelos governos”, afirmou a entidade.
Até esta quinta-feira (10), pelo menos 14 cidades potiguares já decidiram cancelar a programação oficial do Carnaval de rua. Além de não ocorrer em Natal, a folia não estará nas ruas em tradicionais polos carnavalescos, como Parnamirim (Pirangi), Macau e Areia Branca. Os demais municípios são: Apodi, Tibau, Tibau do Sul, Assu, Pendências, Grossos, Dix-sept Rosado, Alexandria, Upanema, Caicó, Macaíba e Almino Alfonso.
O argumento utilizado em muitos casos para justificar eventos privados é a possibilidade de exigência do comprovante vacinal, algo inviável em um festas abertas ao público. De fato, tal medida tem sido adotada em eventos particulares no RN. Até a manhã desta quinta, seis dos 18 hospitais com leitos Covid-19 estão com ocupação de 100%.
Com informações do Agora RN