Ney Lopes – jornalista, ex-deputado federal e advogado – [email protected] – www.blogdoneylopes.com.br
Terminou mais um Fórum de Davos, na Suíça, a reunião anual dos “donos do mundo”, que se realiza desde 1971.
A grande indagação é sobre os possíveis “ganhos e perdas” do Brasil. Observou-se que o nosso país se ausentou de debate essencial sobre inovações e tecnologia. Países como China e Índia tiveram muito mais protagonismo em temas como inteligência artificial e quarta revolução industrial, um dos eixos importantes do futuro,
E o ministro Paulo Guedes, nos contatos que manteve? Não se pode “tapar o sol com a peneira”: o ministro é brilhante e a economia brasileira vai bem. Dá sinais de recuperação. O inegável otimismo permitiu “maratona” de contatos com investidores, gerando boas perspectivas.
A surpresa do anuncio de déficit nas transações correntes (US$ 50,8 bilhões), não terá significado negativo, considerando que o Brasil dispõe atualmente de razoáveis reservas cambiais e dívida externa sob controle.
Houve o seguinte: pela redução interna dos juros, o investidor que “aposta” em taxas elevadas, migrou para outras alternativas. Todavia, o país continua atraindo investimentos externos de mais longo prazo. Dados recentes mostram que esses investimentos superaram o déficit, atingindo quase U$ 80 bi, em 2019.
Nesse contexto de “otimismo”, cabe uma análise: mesmo reconhecendo a competência técnica da atual equipe econômica do Governo, persistem dúvidas se as teses ortodoxas dos “Chicago Boys” nos anos 70 deverão ser reavaliadas e ajustadas ao século XXI, sobretudo diante do alerta do Fórum de Davos, que apontou os riscos sociais da concentração global de renda.
O Ministro Paulo Guedes é fiel seguidor de Milton Friedman, o inspirador dos “Chicago Boys”, que afirmava sempre: “the business of business is business” (o negócio das empresas é o negócio). Trocando em miúdos, o único que importa é ganhar dinheiro.
O ministro Guedes, em 19 de dezembro do ano passado, declarou: “Não olhe para nós procurando o fim da desigualdade social”. Tal concepção é inaplicável na realidade global.
Responsabilidade social da empresa não significa “caridade”, nem abdicar do lucro, mas sim “racionalidade econômica”, que conduza a natural rentabilização dos negócios. Nessa linha, os olhos não podem ser fechados às questões que ameaçam a humanidade, como a degradação ambiental, o respeito aos empregados, consumidores, fornecedores e combate a exclusão social, geradora de desigualdades alarmantes.
A propósito, há dias, Kristalina Georgieva, atual diretora-geral do Fundo Monetário Internacional, também falou sobre os rumos da economia global. Ela recorreu a dados históricos da Grande Depressão (anos 1920) e alertou para a instabilidade financeira, desigualdades sociais e concentração de renda.
A simples geração de empregos, sem a preocupação de aumentar a mobilidade social vertical, é uma falácia e não resolverá a questão social. O exemplo do Chile justifica essa advertência.
O temor é que o ultraliberalíssimo de Guedes, contraposto ao verdadeiro liberalismo social, possa consertar alguns erros estruturais da economia, como a aprovação de reformas absolutamente necessárias, porém sem repercussões efetivas sobre o emprego e a desconcentração de renda. Nessa ótica, a instabilidade social crescerá, caso o legislador deixe de fazer na lei os ajustes “graduais e necessários”.
Simultaneamente a Davos, outro fator favorável foi a visita do Presidente Bolsonaro à Índia, que abre perspectivas para o nosso agronegócio superar o golpe sofrido pela “manobra” de Trump, impondo condições à China para compra de produtos agrícolas americanos, o que prejudica diretamente às exportações nacionais.
A visita presidencial incrementará parcerias nas áreas de “agricultura tropical”, com o Brasil produzindo “pulses” (grão de bico, lentilha e vários tipos de feijão), visando exportações para a Índia.
O FMI aponta que em 2020 a perspectiva de crescimento econômico da Índia (7,1%) é superior à da China (5,9%). O Brasil compra à Índia diesel, inseticidas e poliéster e exporta petróleo, soja e ouro.
Os indianos formam um dos dez mercados estratégicos para indústria. É o segundo maior mercado consumidor do mundo, só perde para China, e até o meio do século ela deve superar a China e se tornar o maior mercado consumidor do mundo.
Como se vê, o governo brasileiro faz “gol”, ao buscar a Índia e tornar-se seu parceiro.
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