Em pronunciamento à nação, Trump diz que Irã está recuando e que EUA querem abraçar a paz

Foto: Jonathan Ernst / Reuters

Em pronunciamento com tom de vitória sobre o ataque iraniano a duas bases que abrigam soldados americanos no Iraque, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que o Irã parece ter recuado e que os Estados Unidos querem abraçar a paz. Ele confirmou que nenhum soldado americano foi morto ou ferido durante a operação iraniana e que os danos às instalações americanas foram mínimos. O presidente disse ainda que os Estados Unidos querem “abraçar a paz” e que não têm intenção de usar seu poderio militar contra o país persa.

— Queremos que vocês tenham um grande futuro de prosperidade e harmonia como outras grandes nações do mundo — disse Trump, ao encerrar sua fala.

Ao lado do vice-presidente Mike Pence, do secretário de Defesa, Mike Pompeo e de diversas figuras da alta cúpula das Forças Armadas dos EUA, Trump defendeu o ataque que matou o general Qassem Soleimani, comandante das Forças Quds da Guarda Revolucionária do Irã. Para o presidente os EUA agiram para “eliminar o maior terrorista do mundo”.

Trump anunciou ainda que irá impôr mais sanções ao governo iraniano, mas não deu maiores detalhes sobre quais seriam estas medidas. Ele fez ainda um apelo para que os países europeus saiam do acordo nuclear de 2015 — algo que os EUA fez em 2015 — e afirmou, antes mesmo de dar boa tarde, que o Irã nunca terá uma arma nuclear enquanto for presidente.

Horas antes do pronunciamento de Trump, fontes de governos europeus e dos EUA afirmaram que o Irã teria feito uma opção deliberada para evitar que houvesse mortes. Isto, de acordo com especialistas, indica cautela e uma tentativa de, apesar da retaliação, aliviar as tensões com Washington.

O presidente americano disse ainda que como os Estados Unidos não dependem mais do petróleo do Oriente Médio, e fez um pedido para que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) — que tem os EUA como seu financiador principal — se envolva mais no Oriente Médio.

— Somos os maior produtor de petróleo e gás natural do mundo, somos independentes, não precisamos do petróleo do Oriente Médio — disse o presidente.

Esta foi a primeira vez que Trump tentou explicar as motivações que levaram ao assassinato de Soleimani e suas consequências. Até o momento, o presidente havia concedido rápidas entrevistas e postado diversas mensagens em suas redes sociais, mas não realizou comentários mais extensos ou concretos. Na noite de ontem, em resposta à retaliação iraniana, Trump recorreu ao seu Twitter para dizer que está “tudo está bem” e que os EUA “têm as Forças Armadas mais poderosas e bem equipadas do mundo, de longe”.

Até esta quarta-feira, as mensagens da Casa Branca vinham sendo confusas e conflituosas. Após ameaçar uma resposta “desproporcional” a uma possível retaliação iraniana, afirmando ter como alvo 52 locais que incluiam pontos culturais, ele foi obrigado a voltar atrás. Pela lei internacional, destruir deliberadamente locais com importância cultural é considerado crime de guerra. O quartel-general americano em Bagdá, por sua vez, chegou a divulgar uma carta em que anunciava a retirada das tropas americanas do Iraque. Horas depois, o Departamento de Defesa disse que o documento tratava-se apenas de um rascunho e que não há planos para uma saída completa.

As reações oficiais que sucederam o ataque iraniano, por sua vez, foram entendidas por analistas como sinais de que os foguetes poderiam pôr fim ao conflito imediato, ao invés de catalisar um confronto maior que poderia se transformar em uma guerra. O premier iraniano, Mohammad Javad Zarif, disse lovo após o ataque que o Irã havia “concluido suas resposta proporcional” em retribuição à morte de Soleimani. O aiatolá Ali Khamenei, por sua vez, disse que a resposta final iraniana será expulsar as tropas americanas do Oriente Médio — comentário reforçado pelo presidente Hassan Rouhani — mas não falou nada sobre novos ataques.

— O que importa é que a presença dos EUA, que é a fonte de corrupção na região, tenha um fim — disse o aiatolá durante seu discurso.

Ainda que não haja um conflito direto, no entanto, as divergências entre Teerã e Washington podem se traduzir em outros pontos. Ultrajado com o fato de que Soleimani foi morto enquanto chegava ao aeroposto internacional de Bagdá, o Parlamento iraquiano votou pela expulsão dos cerca de 5.200 soldados americanos atualmente no país. A decisão não é vinculante, mas o Pentágono, segundo o New York Times, já se prepara para a possibilidade de ver sua presença se esvair quase 17 anos após a invasão ordenada pelo então presidente George W. Bush, em 2001.

O Globo

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