Ney Lopes – jornalista, ex-deputado federal e advogado – [email protected]
Diariamente, as “telinhas” das TVs falam do “Brexit”, que significa em inglês “British exit” (saída britânica).
Trata-se de referencia às idas e vindas do Reino Unido (Inglaterra), querendo deixar a União Europeia. Em 2016 houve plebiscito, no qual 51.9% dos britânicos votaram a favor da saída, ainda não consumada pela falta de acordo.
Em 1973, o Reino Unido se integrou à União Europeia (UE), bloco econômico e político criado há 62 anos (1957), através da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço.
Atualmente é formado por 28 países, dos quais 19 usam o “euro” como moeda oficial (o Reino Unido é uma das exceções).
Observa-se que os europeus sempre tiveram nos britânicos uma importante força econômica, o que criou laços de dependência mútua no fluxo de importações e exportações.
Cerca de 44% das exportações britânicas destinam-se à União Europeia, gerando 3,3 milhões de empregos no Reino Unido. O prazo previsto para desatar o “nó” da saída inglesa do bloco seriam dois anos, que terminou em 29 de março. Com a prorrogação dada, se vencerá em 31 de outubro.
O que irá acontecer?
Na última semana, o surgimento de inesperado “gargalo” político dificultará a solução do impasse. Numa eleição interna do Partido Conservador, ganhou Boris Johnson, o histriônico ex-prefeito de Londres, tornando-se o Primeiro Ministro da Grã Bretanha. Trata-se de figura esquisita, pró “Brexit”, com história de vida tumultuada, discursos xenófobos e comportamento “bufão”, como qualifica a mídia britânica.
Com cabelos louros esvoaçantes, olhos inquietos e um andar que oscila entre o trote e o galope, ele prega o “apocalipse”, ao afirmar que sairá da União Europeia com acordo, ou sem acordo.
Johnson enfrenta resistências dentro do próprio partido. As suas contradições revelaram-se em vários momentos. Em 2018, ele afirmava que a permanência no mercado único seria uma “loucura”. Em 2012 e 2016 era a favor.
Johnson aglutina a classe média britânica, que se sente marginalizada dos benefícios da globalização e não avalia o risco de um “salto no escuro”. Além disso discrimina os imigrantes, com a proposta de expulsão e fechamento das fronteiras.
Como Trump nos Estados Unidos, ele prega o “individualismo”, que na expressão do liberal Aléxis de Tocqueville conduz ao “egoísmo”, considerado um vicio, que denota falta de virtude pública ou cívica.
São preocupantes as análises, acerca das consequências da possível saída do Reino Unido do bloco europeu. O FMI (Fundo Monetário Internacional), a OCDE e outras organizações afirmam que o crescimento econômico seria prejudicado, o desemprego aumentaria, o valor da libra cairia e as empresas britânicas ficariam numa espécie de terra de ninguém fora do bloco.
O próprio “Bank of England” admitiu a hipótese de recessão, que levaria o governo a aumentar o imposto de renda e cortar os gastos no serviço público de saúde, na educação e na defesa.
Quando presidi o Parlamento Latino Americano vivi experiência de convivência próxima com o Parlamento Europeu. Participei de análises e debates frequentes acerca de temas como importância geopolítica da União Europeia/América Latina e regras do processo legislativo usado para aprovação das chamadas “leis comunitárias” (conjunto de normas jurídicas que regulam e disciplinam a organização e o funcionamento da União Europeia).
O PARLATINO mantém vínculo permanente com o Parlamento Europeu.
Naquela época acompanhei a evolução dos pré entendimentos, visando a adesão do Mercosul à UE, o que acaba de acontecer. Nesse particular, cabe analisar as possíveis consequências da aprovação do “Brexit”, em relação ao Brasil.
Vários fatores terão que ser ponderados.
Os europeus adotam políticas agrícolas ultra protecionistas. De saída indaga-se: como se comportaria o Reino Unido, em busca de acordos bilaterais? Por outro lado, o acordo Mercosul-União Europeia isolaria o comércio do Brasil com os britânicos, justamente quando em 2018 as nossas exportações aumentaram para Inglaterra, Irlanda do Norte, Escócia e País de Gales.
O “Brexit” significaria cenário incerto, o que não favorece aos interesses do nosso país. No mínimo, a principal consequência seria a inibição dos agentes econômicos.
Ao Brasil restaria como alternativa “esperar para ver como é que fica”!
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