Um jacaré está vivendo em condições insalubres em uma lagoa de captação localizada no conjunto Boa Esperança, bairro Lagoa Azul, na zona Norte de Natal. De acordo com o morador Rodrigo dos Santos, os órgãos competentes foram acionados para retirar o animal do local, mas a data em que isso vai acontecer ainda não foi definida. O ambiente está tomado por lixo acumulado, e a limpeza é feita pelo próprio Rodrigo, com a ajuda de um colega da região. A presença do réptil levanta questionamentos entre os moradores sobre sua origem e como ele conseguiu se adaptar ao local mesmo diante das condições precárias. Rodrigo afirmou que o jacaré está na lagoa desde sua construção, há mais de um ano. A reportagem da TRIBUNA DO NORTE entrou em contato com a Polícia Ambiental e com o Corpo de Bombeiros, e ambos afirmaram que não receberam nenhum chamado desse tipo.
A bióloga Luisa Moreira explica que a ocupação urbana pode ter sido um fator determinante para que o animal acabasse na lagoa. “As construções vão devastando o ambiente que ele naturalmente viveria, e por isso esses animais procuram lugares que tenham as condições de que precisam, como um local com água, e acabam ficando”, disse a especialista. Segundo ela, outra possibilidade é que o jacaré tenha sido deixado no local por alguém. “Às vezes, as pessoas encontram um animal desses e soltam na lagoa”, acrescentou.
O principal problema apontado pela bióloga é a qualidade da água e a presença de resíduos no ambiente. “O que pode acontecer, a primeira coisa que eu penso, é a questão do lixo. Ele pode acabar se alimentando de restos de comida e outros materiais jogados, o que pode causar riscos para a saúde dele”, alertou. Além disso, o local pode estar contaminado com poluentes e metais pesados, o que representa um perigo tanto para o jacaré quanto para os outros animais da lagoa, como os peixes e sapos.
Luisa explicou que, por estar no topo da cadeia alimentar, o jacaré sofre os impactos da poluição que afeta os peixes e sapos do ambiente. “Quando tem lixo e poluição, toda a cadeia do local vai sendo alterada. Os peixes e os sapos também acabam contaminados, e como ele está no topo dessa cadeia, vai consumindo presas que já foram afetadas pela poluição”, afirmou.
A especialista destacou ainda que, apesar de o jacaré ser um predador, sua presença isolada na lagoa não deve causar um grande impacto na população de sapos. “O desequilíbrio aconteceria se tivéssemos uma grande quantidade de jacarés consumindo sapos em excesso. Mas, nesse caso, o contrário pode ser um problema maior: com a poluição, a quantidade de presas pode diminuir, afetando a alimentação do próprio jacaré”, explicou.
Quanto à possibilidade de remoção do animal, a bióloga acredita que ele poderá se adaptar a um novo ambiente se for transferido para um local com boas condições ambientais. “Se ele já sobrevive há anos nesse ambiente inóspito, ele tem mecanismos de adaptação. O ideal é que ele seja transferido o quanto antes para evitar mais contaminação e impactos na saúde dele”, afirmou.
Lixo na lagoa de captação
Rodrigo dos Santos contou que em abril de 2024 enviou um ofício para a Companhia de Serviços Urbanos de Natal (Urbana) solicitando a limpeza da lagoa de captação. Segundo ele, a urbana foi no local, mas o serviço não foi realizado pois a Companhia afirmou que a limpeza só pode ocorrer com a autorização do Ministério Público. “Eles disseram que precisa de autorização do ministério público para realizar haver limpeza”, disse.
Tribuna do Norte