Ney Lopes – jornalista, ex-deputado federal e advogado – [email protected]
No final de semana, o mundo foi surpreendido com a notícia de que dois ataques com “drones” provocaram incêndios nas instalações da “gigante estatal Saudi Aramco” da Arábia Saudita, a maior empresa de petróleo do planeta, levando a suspensão de mais de 50% da produção.
Logo, os preços dos combustíveis dispararam. O Reino é o maior exportador mundial de petróleo, atendendo cerca de 10% das necessidades globais, que significa corte de 5,7 milhões de barris diários e equivale a cerca de 6% do consumo global. Percebe-se a gravidade do problema.
A causa dos incidentes está na violenta repressão imposta pela Arábia Saudita aos “houhis” do Iêmen, que são membros de um grupo rebelde, também conhecido como “Partidários de Deus”, seguidores da corrente do islamismo xiita.
Desde 2014, o movimento “huti” assumiu o poder no Iêmen. Em consequência, instalou-se violento conflito armado. A sangrenta ditadura da Arábia Saudita, comandada pelo príncipe Mohamed bin Salman, apoiada pelos Estados Unidos, Reino Unido e França, justifica as ações de guerra como riscos da vizinhança geográfica e suposto apoio logístico do Irã aos “houhis”.
Hoje, a ONU classifica o confronto como a maior catástrofe humanitária da atualidade. São usadas “bombas de fragmentação” vendidas pelos “aliados” dos árabes. Não há respeito às regras internacionais de guerra e bombardeios frequentes dizimam cortejos de funerais, festas de casamentos, transporte escolar, ambulâncias e templos religiosos.
O Iêmen é a nação mais pobre do Oriente Médio. Cerca de 75% da população iemenita (22,2 milhões de pessoas) precisa de assistência humanitária urgente, incluindo 15 milhões em situação grave, que requer ajuda imediata para sobreviver. As temperaturas aumentam rotineiramente a altíssimos níveis e os habitantes não têm acesso à água.
Em todo o país, os fornecimentos de gasolina e gás se esgotaram. Morrem diariamente dezenas de pacientes, em razão das unidades de cuidados intensivos dos hospitais não funcionarem, por falta de eletricidade.
Uma nova e séria crise do petróleo parece estar nascendo. Conhecido somente no século XIX, esse produto tornou-se fundamental na vida das sociedades. A partir de 1970 descobriu-se que as reservas eram não renováveis. Estima-se que em 70 anos se esgotem.
Tal descoberta colocou a “commoditie” como fator decisivo para o poder mundial. De tão precioso, passou a ser chamado de “ouro negro”.
Além da escassez e ascensão dos preços do petróleo e derivados, a grande preocupação geopolítica é o agravamento das tensões regionais no Oriente Médio.
A Arábia Saudita, o principal aliado do governo Trump, apoiou integralmente as recentes pressões norte-americanas contra os iranianos, para obrigá-los a renegociar o acordo nuclear de 2015.Há menos de três meses, Trump quase autorizou bombardear o Irã. Se isso vier a ocorrer, o litro da gasolina poderá chegar a 10 reais.
Para quem ache impossível, cabe recordar a crise do petróleo em 2008, quando o então presidente da OPEP, Chakib Khelil, advertiu que, caso o conflito interrompesse a produção do Irã, o preço do barril chegaria a mais de U$ 400 dólares (atualmente U$ 70). No presente, os riscos apontam para interrupção não apenas no Irã, mas também na Arábia Saudita.
Neste contexto, o Brasil certamente enfrentará dificuldades, com inevitáveis aumentos de combustível e possíveis reflexos negativos na taxa de juros e no cambio. Entretanto, há um aspecto positivo à primeira vista.
As maiores petrolíferas mundiais crescerão “os olhos” no gigantesco potencial de produção na região do pré-sal brasileiro, que além da cessão onerosa (sistema no qual a União cede o direito de exploração de áreas, em troca de uma remuneração pré-estabelecida), já está marcado para novembro, o leilão de blocos, no modelo de concessão, no qual a empresa se torna dona do petróleo, mas assume o risco da atividade
Percebe-se que na geopolítica do petróleo, a crise da Arábia Saudita coloca o Brasil em posição estratégica, com mais competividade no mercado. As reservas nacionais dispõem de óleo leve de imensa qualidade, e consequentemente grande valor comercial.
Fala-se até que os sauditas desejam investir no país. Outro fator soma a nossa favor: em matéria de “conflitos”, o risco no Brasil será menor, do que no Oriente Médio. No atual clima de tensão mundial, tal circunstância pesará, na visão dos investidores.
É só esperar, que mais uma vez, Deus seja “brasileiro”!
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